Título: Com dólar em alta, despesas dos brasileiros no exterior recuam 10%
Autor: Valente, Gabriela
Fonte: O Globo, 25/07/2012, Economia, p. 22

Cautela do turista ajuda contas externas e déficit cai 2,7% no primeiro semestre

BRASÍLIA . O dólar na casa dos R$ 2 pesou no bolso e desanimou os brasileiros a viajarem ao exterior. Só em junho, houve uma queda de 10% das despesas dos turistas lá fora em relação ao mesmo mês do ano passado. Quem viajou gastou US$ 1,7 bilhão no mês em que começa a alta estação. No entanto, no semestre, o Banco Central (BC) ainda registrou um aumento de 4,5% e chegou a US$ 10,7 bilhões, mas a autarquia espera que essa alta se reverta até o fim do ano.

A cautela maior do turista, aliada ao ritmo mais lento da economia, que demanda menos importados e que ainda achata o lucro das empresas, fez com que as contas externas tivessem uma leve melhora. O déficit em transações correntes chegou a US$ 25,3 bilhões. É uma queda de 2,7% em relação aos seis primeiros meses de 2011.

De acordo com o BC, o dólar em alta favorece as contas externas em vários sentidos. No caso das viagens internacionais, o efeito é benéfico, porque, além de desestimular o brasileiro a ir para o exterior, atrai o turista estrangeiro para o Brasil. E a tendência daqui para frente é que esse movimento se intensifique.

- O dólar vai ter um grande peso - ressaltou o chefe-adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, Fernando Rocha.

O economista da Austin Rating, Renato Carvalho, concorda que os gastos dos turistas brasileiros devem continuar a cair daqui para frente. A queda até agora só não foi maior, porque as estatísticas até o mês passado refletem pacotes comprados antes - quando o dólar estava baixo e atraente - e que já foram pagos.

- Muita gente comprou pacote e pagou a viagem antes de embarcar - disse Carvalho.

O BC espera que o dólar caro e o avanço do preço de commodities favoreçam a balança comercial no segundo semestre e contribuam para o equilíbrio das contas externas.

Com o câmbio em alta, a remessa de lucros e dividendos (já descontadas as entradas) caiu quase 47% em relação ao mesmo período do ano passado, chegando a US$ 10 bilhões. Segundo Rocha, como o estoque dos investimentos é calculado em reais, com o dólar mais caro ele diminui. Daí, os lucros a serem enviados também são menores.

Mais uma vez, o BC apontou que o investimento estrangeiro direto ameniza o déficit nas contas externas. Só no mês passado entraram US$ 5,8 bilhões no país e US$ 29,7 bilhões no primeiro semestre.