Título: Em 2011, 19 ataques homofóbicos por dia
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 21/07/2012, O País, p. 12

Relatório do governo federal aponta jovens e negros como principais vítimas; no ano, foram quase sete mil denúncias

BRASÍLIA. O governo concluiu seu primeiro Relatório Sobre Violência Homofóbica no Brasil, um raio X das violações ocorridas em 2011. O estudo demonstra que as agressões contra essa população são cotidianas, que há um número maior de agressores do que de vítimas, e que os homossexuais foram alvos de mais de um ataque, em uma média de 3,9 agressões sofridas por pessoa.

Em 2011, ocorreram 18,65 violações de direitos humanos de caráter homofóbico por dia. Quanto aos meses de ocorrências, dezembro aparece em primeiro lugar, com 19,4% das violações, seguido por outubro (14,8%) e novembro (13,6%).

De janeiro a dezembro do ano passado, foram registradas 6.809 denúncias envolvendo o grupo LGBT: 1.713 vítimas e 2.275 suspeitos. Entre as vítimas, 67,5% eram do sexo masculino e 26,4%, do feminino.

O documento tem como base os registros em serviços de atendimento do governo, como a Central de Atendimento à Mulher, da Ouvidoria do SUS, e denúncias aos órgãos da Secretaria de Direitos Humanos, vinculada à Presidência da República.

A vítima não sofre apenas violência física - como socos e pontapés -, mas também psicológica, como humilhações e injúrias, que responde por 42,5% dos casos, seguida de discriminação (22,3%) e de violência física (15,9%).

O número maior de suspeitos em relação às vítimas retrata o que aparece nos noticiários: grupos de pessoas que se reúnem para espancar homossexuais.

Nas denúncias feitas aos órgãos públicos, apenas 42% foram de iniciativa das próprias vítimas. Em 26,3% dos casos, o denunciante não conhecia a vítima e em 5% tratava-se de familiares, principalmente filhos e irmãos.

A maioria das vítimas, 85,5%, apresentou-se como homossexual; 9,5%, como bissexuais, e 1,6%, heterossexuais. Em relação a raça e cor autodeclarada, 51,5% das vítimas são negros (pretos e pardos) e 44,5%, brancos.

Entre os agressores, prevalecem os familiares (38,2%) e os vizinhos (35,8%). Entre os familiares, as mães agridem mais os filhos que os pais. Sobre o local da violência, 42% acontecem em casa - da vítima e do suspeito; na rua, 30,8%.

O relatório conclui que a homofobia atua de forma a desumanizar as expressões de sexualidade divergentes da heterossexual. E reforça que os jovens, por negarem-se às restrições impostas pelos guetos LGBT, são as maiores vítimas.

"Os dados denunciam que a sociedade brasileira ainda é extremamente sexista, machista e misógina. Os números que apresentam a maioria dos agressores como do sexo masculino atestam o quanto a masculinidade construída socialmente sente-se ameaçada por outras vivências da sexualidade", diz o documento.