Título: Jefferson: Defesa tem autonomia na ação
Autor: Castro, Juliana
Fonte: O Globo, 27/07/2012, O País, p. 4

O JULGAMENTO DO ANO

Uma semana antes do início do julgamento do mensalão, o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), um dos 38 réus do processo e delator do esquema, internou-se ontem para retirar um tumor no pâncreas, elogiou o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e disse que não muda sua versão do caso. Poucos minutos após sua internação, Jefferson disse que seu advogado, Luiz Francisco Corrêa Barbosa, terá autonomia para fazer sua defesa no julgamento do processo no Supremo Tribunal Federal (STF), marcado para começar no dia 2 de agosto. Durante a sessão, Barbosa sustentará uma tese que contraria declarações do próprio Roberto Jefferson logo após a divulgação do escândalo.

Em entrevista ao GLOBO, o advogado do petebista avisou que centrará fogo no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele dirá que Lula não só sabia da existência de todo o esquema como "ordenou" sua execução, desmentindo as afirmações de Roberto Jefferson de que o ex-presidente só tomou conhecimento do escândalo quando fora avisado por ele. O presidente do PTB disse não ter problema em que a discordância entre ele e o advogado se torne aparente.

- A defesa tem autonomia na ação. Mas, a minha versão, eu não mudo. Agora, ele (Barbosa) tem uma defesa preparada e é o caminho que ele vai trilhar - disse Roberto Jefferson.

O ex-deputado elogiou Delúbio Soares, tesoureiro do PT durante o mensalão e réu no processo que será julgado no Supremo. Arnaldo Malheiros Filho, advogado principal da banca que defende Delúbio, disse anteontem que seu cliente apenas cumpriu ordens, rebatendo a tese dos advogados de José Genoino, presidente do PT à época do escândalo, de que o cliente só cuidava das questões políticas, e Delúbio, da parte financeira. A defesa de José Dirceu segue a mesma linha e alega que o cliente não tratou de dinheiro do PT enquanto era ministro da Casa Civil.

- Eu penso que a posição do Delúbio é de um homem de caráter. É uma covardia dizer que assinou escondido, que não viu - declarou Jefferson, sem querer citar os nomes de Genoino e Dirceu.

Ao comentar a questão, Jefferson demonstrou, de novo, sua discordância com o advogado:

- Eles (as pessoas cujos nomes Jefferson não quis citar) não aprenderam com Lula, porque ele tem caráter - declarou, dizendo que o ex-presidente "pode abraçar o pecador, mas não o pecado".

Por conta da cirurgia pela qual passará amanhã para a retirada de tumor de quatro centímetros no pâncreas, o presidente do PTB deverá acompanhar o início do julgamento do mensalão no hospital. Segundo o cirurgião-geral José Ribamar de Azevedo, que vai operar o ex-parlamentar, o paciente deve ficar de quatro a cinco dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e a alta só deve ser dada de 12 a 15 dias após a realização do procedimento.

- Não temos certeza se o tumor é ou não maligno, mas, mesmo que seja, não é dos tipos mais agressivos - explicou o médico.

O cirurgião disse ainda que, em princípio, Jefferson não precisará fazer quimioterapia. Durante a cirurgia, que deve durar mais de sete horas, será desfeita a cirurgia bariátrica a que o ex-deputado se submeteu em abril de 2000.

- A redução do meu estômago permite que ele absorva só 50% dos alimentos que consumo. Acontece que a operação do pâncreas também acarreta uma desabsorção de nutrientes, e meu corpo não suportaria fazer a atual cirurgia sem desfazer a outra - explicou o ex-deputado.

Jefferson chegou de bom humor ao Hospital Samaritano, em Botafogo, acompanhado da mulher, Ana Lúcia Novaes.

- Cheguei a empurrar isso com a barriga, não dei muita atenção. Mas, há uns 20 dias, o médico me ligou e disse que queria que eu fizesse essa ressonância magnética. Aí percebi que poderia ser algo sério, e foi detectado o tumor.