Título: Lucro da Vale cai pela metade
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 26/07/2012, Economia, p. 21

Crise externa e dólar alto fazem ganho da empresa recuar 48%, para R$ 5,3 bi, no segundo trimestre

A queda do preço do minério de ferro, a alta das despesas operacionais e o avanço do dólar frente ao real fizeram a Vale, uma das maiores mineradoras do mundo, registrar um lucro líquido de R$ 5,314 bilhões no segundo trimestre deste ano. O resultado é 48,28% menor em relação ao mesmo período do ano passado e 20,92% a menos ante o primeiro trimestre de 2012. O resultado veio abaixo das expectativas dos analistas de mercado, que projetavam ganhos entre R$ 6,9 bilhões e R$ 7,1 bilhões no período, e o menor resultado desde o primeiro trimestre de 2010, quando registrou ganhos de R$ 2,879 bilhoes.

Em dólar, o lucro líquido da mineradora foi de US$ 2,662 bilhões, queda de 30,4% ante o início de 2012. Em relação ao mesmo período do ano passado, o tombo chega a 58,7%.

Em seu relatório, a mineradora explicou que o avanço de 11% na cotação do dólar, entre março e junho, se refletiu em uma "grande queda" de seus ganhos no período. Como a cotação da moeda americana subiu rapidamente, a companhia teve de ajustar a sua dívida - de US$ 25,518 bilhões e atrelada praticamente 100% ao dólar - para o real. Houve, assim, uma correção, para baixo, de R$ 3,458 bilhões no lucro.

- Quanto maior a cotação do dólar, maior a dívida. Mas é apenas um ajuste contábil, pois a Vale não precisou liquidar os empréstimos. Ou seja, não houve desembolso de caixa. Isso é feito para manter o balanço ajustado em relação às variações de outras moedas - explicou Rafael Weber, analista da Geração Futuro, que esperava lucro líquido de R$ 6,9 bilhões.

Além da dívida, há outras operações financeiras que são ajustadas, como os debêntures (papéis de longo prazo) e transações com derivativos (contratos de pagamentos futuros).

Analistas também destacaram que o lucro menor foi afetado pela queda dos preços de minérios e metais básicos. Pedro Galdi, analista da SLW Corretora, lembrou que a cotação da tonelada do minério de ferro no mercado internacional caiu de US$ 148, no segundo trimestre de 2011, para cerca de US$ 111. Com isso, a receita da Vale caiu 2,3% no período, para R$ 23,910 bilhões. Já em relação ao primeiro trimestre deste ano, a receita subiu 19% com o avanço do volume de vendas, oriundo do aumento da produção, como em Carajás, no Pará, e da recuperação do preço neste ano.

- A Vale produziu mais, mas a redução do preço do minério derrubou a receita em relação ao ano passado. Houve, contudo, uma melhora no segundo trimestre em relação aos primeiros três meses, quando a tonelada estava a US$ 109 - afirmou Galdi.

A Vale também está mais dependente do minério de ferro, que respondeu por 53,6% da receita. No início deste ano, o índice era de 52,9%. Por outro lado, a fatia dos metais básicos (como níquel e cobre) caiu de 15,6% para 14,6% no mesmo período. A China continuou como o principal mercado para a mineradora, somando 31,6% dos negócios, maior que os 31,4% em março. A fatia do Brasil caiu de 20,7% para 19%.

Vale pode vender ativos, diz analista

Em relação ao mercado chinês, a Vale se mostra otimista com o seu principal comprador. Em relatório, a mineradora ressalta que a economia da China mostrou sinais de estabilização no segundo trimestre e o início de uma recuperação do investimento. Porém, mostra-se preocupada com a crise internacional. No relatório, a empresa diz que "a recessão na zona do euro deve se prolongar e a dinâmica de crescimento nas economias emergentes, como Brasil, Índia e China, tem se arrefecido".

Com receita menor em relação a 2011, o Santander, em relatório, mostra-se preocupado com a geração de caixa da companhia. Alex Sciacio, analista do banco, diz que, para sustentar o fluxo de caixa no curto prazo, a venda de ativos pode acontecer mais cedo que o esperado. Para Sciacio, a primeira ação pode ser a venda de 22% na Norsk Hydro, os navios Valemax, além de ativos de petróleo e gás.

Weber, da Geração Futuro, pontua ainda que a empresa sente os reflexos de custos operacionais maiores. As despesas totais subiram de R$ 10,049 bilhões, no primeiro trimestre, para R$ 11,671 bilhões. Foi uma alta de 16,14%. Em relação ao mesmo período do ano passado, quando ficou em R$ 9,057 bilhões, o avanço chegou a 28,86%:

- Os custos aumentaram bastante. Apesar de a indústria estar estagnada, o setor de mineração vive um momento pujante, com muitos projetos. São novas minas e aumento de capacidade por todo o país. Isso encarece as despesas referentes à manutenção de equipamentos, materiais e aluguéis.