Título: Homicídios na cidade de SP sobem 21% em 2012
Autor: Guandeline, Leonardo
Fonte: O Globo, 26/07/2012, O País, p. 11

Procuradoria da República estuda pedir à Justiça troca do comando da PM e fala até em intervenção federal no estado

SÃO PAULO . Estatísticas da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) mostram que o número de homicídios na capital paulista cresceu 21,57%, na comparação entre o primeiro semestre deste ano e o mesmo período do ano passado. Foram 586 casos registrados na cidade em 2012, ante 482 no ano anterior. O aumento da violência levou o Ministério Público Federal (MPF) a analisar a apresentação de ação civil pública pedindo a intervenção federal para combater a impunidade e reprimir ações violentas atribuídas à Polícia Militar (PM).

No segundo trimestre deste ano, 76 pessoas foram mortas em confronto com a PM na cidade, contra 64 no primeiro trimestre.

No estado, o número de homicídios subiu de 2.014 para 2.183, na comparação entre os primeiros semestres de 2011 e 2012, um aumento de 8,39%. O secretário de Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, admitiu, na segunda-feira, que, atualmente, o estado vive uma "escalada de violência". A declaração ocorreu após vários episódios, entre os quais a morte do bancário italiano Tomasso Lotto, que estava acompanhado do filho do ministro da Justiça da Espanha, e foi baleado por assaltantes, no sábado; e os assassinatos do empresário Ricardo Aquino e do estudante Bruno Vicente de Gouveia e Viana, em São Paulo e Santos, ambos na semana passada e atribuídos a policiais militares. O MPF ainda aponta outros homicídios cujos autores também seriam PMs.

- Tanto a Polícia Civil quanto a Polícia Militar não vão ceder espaço para o crime organizado. Muitas vezes, eles fazem ataques covardes contra agentes do Estado. Quando um determinado crime ocupa muito espaço na mídia, pessoas tentam aproveitar o embalo para fazer esse crime também - disse Marcos Carneiro, delegado-geral da Polícia Civil.

O procurador da República Matheus Baraldi Magnani também estuda pedir à Justiça Federal o afastamento do atual comando da PM paulista. O aumento da violência será debatido hoje em audiência pública, com a participação de movimentos sociais, da Defensoria Pública, do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) e do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), entre outros.

Em entrevista à Rádio CBN, Rildo Marques de Oliveira, coordenador nacional do MNDH, disse que o governo paulista "não conseguiu encontrar uma forma adequada de fazer uma política de segurança pública com cidadania".

Ontem, o movimento Mães de Maio - criado por parentes de jovens assassinados durante uma série de crimes em maio de 2006 em São Paulo - protocolou, em Brasília, uma carta à presidente Dilma Rousseff pedindo que o governo federal acompanhe e também investigue crimes cometidos por agentes de segurança paulistas nos últimos seis anos. Segundo o movimento, 200 homicídios atribuídos à "onda de violência policial" foram registrados no estado de São Paulo, a maioria nas periferias, contra jovens pobres e negros.

O GLOBO enviou e-mail para a assessoria de imprensa da Polícia Militar para comentar o assunto, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.