Título: Relator fez mutirão de juízes para agilizar processo
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 29/07/2012, O País, p. 11

Para concluir seu voto, com cerca de mil páginas, Barbosa teve o auxílio de magistrados de 47 varas federais

UM JULGAMENTO PARA A HISTÓRIA

BRASÍLIA . Em 2007, às vésperas do julgamento da denúncia do mensalão, o relator do processo no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, viajou para a Áustria. Descansou, assistiu a espetáculos de ópera, tomou vinho e revisou o voto que resultaria na abertura da ação penal contra 40 acusados de participar do suposto esquema de corrupção política. Este ano, às vésperas do julgamento da ação penal contra 38 réus - as duas baixas devem-se a uma morte e um acordo com o Ministério Público -, o mesmo Barbosa foi descansar a mente nos Estados Unidos, onde deu a última burilada nas cerca de mil páginas do voto que, espera, resultará pelo menos em algumas condenações.

O descanso foi uma breve pausa nos últimos cinco anos de trabalho intenso em um processo que hoje soma mais de 50 mil páginas. Foram mais de 600 depoimentos de testemunhas espalhadas por todo o Brasil. No meio desse esforço, foi acometido por uma crise de dor no quadril, que o levou à mesa de cirurgia no ano passado e ainda o martiriza durante as sessões no Supremo, das quais participa de pé na maior parte do tempo.

Barbosa não trabalhou sozinho. Na fase dos depoimentos, juízes de 47 varas federais, localizadas em 19 unidades da federação, ouviram os depoimentos. O relator teve acesso às transcrições depois. No gabinete, teve a ajuda constante de dois dos seus 20 assessores: Carla Ramos, do Rio de Janeiro, e o juiz Leonardo Farias, do Pará. Desde abril do ano passado, os dois trabalham exclusivamente no processo do mensalão.

Carla é a fiel escudeira de Barbosa. Entre 2000 e 2001, foi aluna do ministro na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) em Direito Constitucional e em Direito Administrativo. Só tirava nota dez. Tornou-se defensora pública no Rio de Janeiro. Barbosa chegou ao Supremo em 2003 e, dois anos depois, quando o maior escândalo do governo Lula se transformou em inquérito no tribunal, ele foi sorteado para relatar o caso. O ministro então não teve dúvidas: em 2006, convidou a aluna preferida para ser sua assessora e cuidar do processo.