Título: Discurso pronto
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 29/09/2009, Política, p. 4

Atenção eleitores: podem começar a juntar as pecinhas do quebra-cabeça. No início deste mês, o presidente Lula reuniu os integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social para bradar as maravilhas da economia nacional. Ali, foi firme na tese do estado forte, promotor do desenvolvimento. Uma dezena de dias depois, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, bateu na mesma tecla numa entrevista. Ontem, Lula reforçou o tema na posse do novo ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. E outras falas vão marcar o assunto, de forma cada vez mais incisiva.

Os petistas se preparam para reeditar na campanha eleitoral do ano que vem a mesma força motriz produtora dos votos de 2006, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva venceu o tucano Geraldo Alckmin. Dirão que o PSDB defende o estado mínimo, apenas regulador, enquanto o PT e a ministra Dilma, são adeptos do estado mais amplo e forte.

Em 2006, quando ainda não havia uma crise econômica mundial desfilando nos telejornais antes do horário eleitoral, foi grande no PSDB o estrago causado pelo discurso simplista de que os tucanos eram favoráveis às privatizações e o PT, não. Alckmin ficou rouco tentando convencer alguns de que, se eleito, não privatizaria o Banco do Brasil, a Petrobras e a Caixa Econômica Federal.

Agora, o discurso petista de 2006 será ampliado. Com a crise econômica mundial, Lula tem um prato cheio para retomar a tese do estado forte em 2010, só que de forma mais eficaz. Ontem mesmo ele reforçou que, em tempo de turbulência, é o estado que salva. Foi aplaudido de forma efusiva pelos prefeitos que lotaram o salão quando citou que, se o dinheiro dado ao sistema financeiro fosse usado em programas sociais, todos os pobres estariam na classe média.

A diferença de 2006 para 2010, além é claro do candidato, é que Dilma não é Lula.

Não se trata mais de dizer se vai privatizar isso ou aquilo ou manter o comando estatal. A ordem é mostrar o que foi revertido em serviço público e benefícios sociais com o dinheiro das privatizações no governo Fernando Henrique Cardoso e o que Lula fez sem privatizar uma só repartição pública.

E tudo isso não está em curso, assim, do nada. Circula nos gabinetes do governo uma pesquisa sobre como a população enxerga a tese do estado forte. E as cabeças coroadas da República descobriram que os brasileiros são meio paternalistas, preferem o estado promotor. Ou seja, tudo o que vem nos discursos não é à toa. É cientificamente comprovado.

E, por falar em método científico... Enquanto Lula falava, um especialista em pesquisa que acompanhava a posse de Padilha garantia a um amigo que Dilma já está no segundo turno. Ele calcula que, quando José Serra tinha 14% em 2002, Fernando Henrique Cardoso tinha uma popularidade na casa dos 35%. Serra chegou ao patamar da popularidade de FHC e foi ao segundo turno contra Lula. Hoje, Dilma tem 14%. Só que Lula tem uma popularidade que é o dobro daquela de FHC. Logo, se a ministra obtiver metade do que Lua tem hoje de aprovação, tem tudo para chegar lá. Em tempo: ela tem dito a amigos que não está nem aí para as pesquisas de hoje. Só lhe interessam aquelas de outubro de 2010.