Título: Para agradar Uruguai, Brasil investirá mais em energia
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 01/08/2012, Economia, p. 20

Comunicação, infraestrutura e tecnologia também são prioridades

Eliane Oliveira

Janaina Figueiredo

Novos Hermanos

BRASÍLIA e BUENOS AIRES . Magoado com o tratamento que vem recebendo dos sócios do Mercosul, o Uruguai ganhou ontem um agrado da presidente Dilma Rousseff no encontro de cúpula do Mercosul. Após se reunirem em separado dos outros líderes do bloco, Dilma e o uruguaio José Mujica divulgaram comunicado conjunto anunciando a criação de "um novo paradigma" para a relação bilateral.

As áreas prioritárias para o aprofundamento da parceria entre os dois países são integração produtiva, ciência, tecnologia e inovação, comunicação e informação, integração da infraestrutura de transportes, livre circulação de bens, serviços e pessoas.

nova linha de transmissão

Capítulo especial foi dedicado à integração energética. Foi reforçado o compromisso firmado pelo Brasil quanto à construção da linha de transmissão de 500kV entre San Carlos (Uruguai) e Candiota (RS), a ser concluída em 2013. Está ainda prevista a associação entre Eletrobras e UTE, a estatal de energia uruguaia, para a construção de um parque eólico no país vizinho.

Outro compromisso firmado pelo Brasil consiste na intensificação dos esforços para a concretização, "no prazo mais breve possível", dos projetos prioritários de transportes

Segundo o comunicado, os presidentes inauguraram nova etapa no relacionamento bilateral, marcada "pela intensificação de iniciativas e projetos concretos de cooperação e associação entre atores públicos e privados em áreas estratégicas, com ênfase na busca conjunta do aumento da eficiência e da competitividade sistêmica das respectivas economias, no crescimento com distribuição de renda e na ampliação de oportunidades para todos os brasileiros e uruguaios". Para isso, foi criado um grupo de alto nível, encarregado de elaborar um "Plano de Ação para o Desenvolvimento Sustentável e a Integração Brasil-Uruguai".

O Paraguai se ressente

Com o Paraguai, as relações não têm sido tão cordiais. Pouco após o anúncio da incorporação plena da Venezuela ao Mercosul, o vizinho declarou, por meio de seu Ministério das Relações Exteriores, que a iniciativa "é um atropelo inaceitável à institucionalidade e às normas vigentes no bloco". O ministério ressaltou, ainda, que a declaração presidencial assinada ontem "não constitui ato jurídico válido", logo "carece de sustentação legal".

O governo do presidente Federico Franco acompanhou de longe o encontro de Brasília, já que seu país continua excluído do processo decisório do Mercosul. Em junho, o Paraguai também foi impedido de participar da cúpula de presidentes do bloco, em Mendoza, na Argetina, uma semana após a destituição do então presidente do país, Fernando Lugo.

Ontem, a presidente argentina tentou minimizar a crise interna do bloco e afirmou: "o Paraguai está apenas suspenso, e esperamos que em breve possa retornar". Em Assunção, o discurso do novo governo paraguaio foi menos amistoso:

"O ingresso da República Bolivariana da Venezuela como membro pleno do Mercosul sem a presença e a autorização constitucional da República do Paraguai é grosseira violação do Tratado de Assunção e das disposições legais vigentes e concordantes no bloco".

Apesar do tom, Franco enviou ao Parlamento o procolo de adesão da Venezuela para buscar sua aprovação.