Título: Promessa de fim do caos
Autor: Alencar, Emanuel; Bonfanti, Cristiane
Fonte: O Globo, 01/08/2012, Rio, p. 9

Governo federal negocia com líderes grevistas liberação da rodovia após 40h de bloqueios

Antes da reunião. Caminhoneiro discursa, em favor da continuação da paralisação, para os manifestantes que bloqueavam a pista da Rodovia Presidente Dutra mantendo o caos

Pablo Jacob

A DUTRA reféM

brasília e rio. Após cinco de horas de reunião com o ministro dos Transportes, Paulo Passos, e 40 horas de bloqueios que levaram caos à Via Dutra, o Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC) se comprometeu, ontem à noite, a liberar o trânsito nas rodovias federais de todo o país. Segundo Passos, o primeiro compromisso firmado com os grevistas foi a constituição de uma mesa de negociações que começará a trabalhar na próxima quarta-feira para encaminhar as principais reivindicações da categoria. O ministro disse que, independentemente dessa mesa, o governo já se comprometeu a atender a alguns pedidos dos grevistas. Ele acrescentou que haverá um prazo de 30 dias para que os motoristas que não cumprirem as novas regras da jornada de trabalho sejam multados. Por enquanto, haverá apenas uma fiscalização educativa.

acordo em Brasília racha movimento

Porém, mesmo após o resultado da reunião em Brasília, os grevistas que bloqueavam a Dutra permaneceram com os caminhões na rodovia, apesar de o MUBC ter se comprometido a suspender a greve. Ao saberem da decisão tomada em Brasília, os grevistas voltaram a bloquear totalmente as pistas, nos dois sentidos. O clima ficou ainda mais tenso na altura de Barra Mansa, ponto de maior concentração dos caminhoneiros. Mais cedo, às 11h da manhã, grevistas chegaram a cortar as mangueiras de três caminhões que tentaram furar o bloqueio. Os veículos tiveram de ser rebocados pela CCR, concessionária que administra a via, que é federal. Horas depois, uma faixa voltou a ser liberada no sentido Rio, mas apenas para ônibus, automóveis e carros de serviço. À noite, no entanto, com os ânimos exaltados após o acordo entre o MUBC com o ministro, os manifestantes chegaram a cortar um dos pneus de um ônibus da linha São Paulo-Rio. Os manifestantes alegavam que o MUBC não os representava e garantiam que manteriam o protesto.

Já o tom do presidente da MUBC, Nélio Botelho, era outro ao sair da reunião com o ministro.

- A paralisação está encerrada a partir deste momento. A maioria (dos caminhões) continuará estacionada por questão de segurança. Uma desmobilização completa só vai ocorrer até amanhã (hoje) de manhã - garantiu ele, acrescentando que os caminhões seriam retirados das estradas gradativamente para evitar acidentes.

O ministro afirmou que o primeiro compromisso firmado com os grevistas foi a constituição de uma mesa de negociações que trabalhará por um período de 30 dias, encaminhando as reivindicações do setor. À tarde, Passos já havia se reunido por três horas com sindicatos contrários ao movimento. Foram, ao todo, oito horas de discussões. Ele disse que, independentemente dessa mesa, o governo já se comprometeu a atender a alguns pedidos da categoria.

contra 11h de descanso a cada 24h

O MUBC protesta contra as recentes mudanças regulatórias no setor que instituíram, por exemplo, que todo transportador cumpra um intervalo de 11 horas de descanso ininterrupto a cada 24 horas. Na visão dos grevistas, é impossível cumprir essa determinação, já que as rodovias não têm pontos de apoio em número suficiente e os trabalhadores podem até mesmo ser multados por parar no acostamento.

O clima foi tenso durante todo o dia. Os manifestantes usavam pedras, pedaços de pau e até facões para intimidar quem tentasse furar a greve. Equipes de reportagem também foram alvo de ameaças. Havia poucos policiais rodoviários federais e alguns caminhoneiros alegavam que precisavam passar porque transportam cargas perecíveis.

- Saí de São Paulo na madrugada de segunda-feira com um carregamento de placas de grama que deveriam ser plantadas num condomínio na Barra da Tijuca. Agora já era, perdi tudo. Estragou tudo - lamentava o caminhoneiro Sidney Martins.

tentativa de fechar também a BR-040

Ao longo do dia, o tráfego permaneceu muito lento nos dois sentidos da Dutra, com vários pontos de bloqueio. O congestionamento na rodovia chegou a 19 quilômetros no sentido Rio e a 12 quilômetros para quem seguia para São Paulo. Somente na altura de Barra Mansa, o congestionamento chegava a 14 quilômetros. Outro grupo de manifestantes ocupou o acostamento da Rodovia Washington Luís (BR-040), em Caxias, na altura da Reduc. Segundo a Concer, concessionária que administra a rodovia, alguns caminhoneiros fecharam a pista para o Rio por dez minutos, mas, com a intervenção da PM, recuaram e passaram a ocupar apenas o acostamento.

Os transtornos causados à população pela greve de caminhoneiros expôs um problema das rodovias federais do Rio: o baixo efetivo de policiais rodoviários federais. Segundo estimativas do sindicato da categoria no estado, nos últimos 15 anos o número de agentes sofreu redução de aproximadamente 50%. O reflexo pode ser observado em postos da PRF fora de operação, muitos por falta de efetivo. Ontem, uma equipe do GLOBO encontrou quatro fechados ao percorrer vias importantes para quem chega e sai da Região Metropolitana: a Ponte Rio-Niterói (BR-101), a Rio-Teresópolis (BR-116) e a Rio-Petrópolis (BR-040). Por causa da greve dos caminhoneiros, a Superintendência Regional da PRF do Rio alterou as escalas de trabalho. Segundo a corporação, para reforçar o efetivo, agentes de folga foram convocados.