Título: Márcio Thomaz Bastos deixa defesa do bicheiro Cachoeira
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 01/08/2012, O País, p. 7

Desistência ocorre na antevéspera do início do julgamento do mensalão e um dia depois que mulher do contraventor foi acusada de ameaçar juiz

BRASÍLIA . O advogado Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça, renunciou ontem à defesa do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. A saída da equipe de Bastos foi anunciada um dia depois de a Polícia Federal abrir inquérito para apurar suposta tentativa de chantagem de Andressa Mendonça, mulher de Cachoeira, contra o juiz Alderico Rocha Santos, da 5ª Vara Federal de Goiânia. Rocha Santos está à frente do processo em que Cachoeira e mais sete réus são acusados de corrupção, violação de sigilo e formação de quadrilha armada.

O advogado Augusto Arruda Botelho, um dos auxiliares de Bastos, negou qualquer relação entre a saída do caso e a suposta chantagem.

- É mera coincidência. Nós já havíamos acertado que iríamos sair do caso - disse Botelho.

Segundo ele, as conversas sobre a troca de advogados teriam começado antes mesmo dos interrogatórios de réus e testemunhas na Justiça Federal semana passada. A equipe também deixou a defesa de Cachoeira no processo em que ele responde na 5ª Vara da Justiça do Distrito Federal por suposta tentativa de fraude em licitação.

Mas, mesmo após a renúncia, o escritório do ex-ministro deve permanecer nos dois processos por mais dez dias, conforme determina o estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Até lá, Cachoeira deverá contratar novos advogados. O Ministério Público Federal em Goiás já espera um atraso na decisão judicial sobre o caso, uma vez que a nova defesa jurídica a ser constituída por Cachoeira vai requerer um novo prazo para analisar os autos. Autoridades que atuam no caso acreditam que a saída do escritório de Thomaz Bastos pode ser mais uma estratégia do grupo do bicheiro, uma forma de ganhar tempo nesta fase final do processo em curso na Justiça Federal de Goiás.

Em meio à rescisão de contratos com os advogados, Andressa pagou ontem fiança de R$ 100 mil à Justiça Federal para não ser presa. Nos próximos dias, a PF deverá concluir o inquérito em que Andressa é investigada por corrupção ativa. O delegado Sandro Paes só precisa aguardar a conclusão do exame grafotécnico do bilhete que ela entregou a Rocha Santos na quinta-feira passada para apresentar relatório final do caso. No bilhete, constam os nomes de três pessoas ligadas ao juiz que teriam problemas com a Justiça. Um dossiê sobre os três seria divulgado a mando de Cachoeira se o juiz não inocentasse o bicheiro, conforme relato do magistrado.

A Polícia Federal e o Ministério Público Federal não veem necessidade de que Rocha Santos preste depoimento no inquérito sobre o assunto.

- Ele (Rocha Santos) fez um relatório bem detalhado. Todas as informações já estão lá. Acredito que a polícia concluirá logo este inquérito - disse a procuradora Léa Batista de Oliveira ao GLOBO.

Andressa não quis fornecer material para comparação e não rebateu as acusações formuladas pelo juiz no relatório encaminhado ao MPF.