Título: João Paulo Cunha tenta nas urnas recuperar a honra
Autor: Roxo, Sérgio; Alves, Marcos
Fonte: O Globo, 01/08/2012, O País, p. 6

Deputado que presidia a Câmara na época do mensalão foi o único réu a se candidatar neste ano; ele disputa a prefeitura de Osasco, na Grande São Paulo

um julgamento para a história

SÃO PAULO. Convicto de que a eleição pode ser uma espécie de julgamento paralelo do mensalão, o deputado federal João Paulo Cunha enfrentou a resistência do ex-presidente Lula e de parte do PT local para concorrer à prefeitura de Osasco, na região metropolitana de São Paulo, este ano. Internamente, para os petistas, o único dos 38 réus do processo que vai disputar o voto do eleitor em outubro tem dito que precisa ser "absolvido pela população". No discurso de lançamento da candidatura, falou que a eleição é sua "chance de recuperar a honra" e conclamou os militantes a defendê-lo.

Se condenado, o ex-presidente da Câmara poderá continuar concorrendo, mas corre o risco, caso eleito, de ser impedido de tomar posse. Por precaução, o prefeito da cidade, o petista Emídio de Souza, impôs um vice do partido, o seu ex-secretário Jorge Lapas, mesmo com uma chapa que reúne outras 19 legendas.

Segundo aliados, ele está tenso com o julgamento. Como na cidade não há horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão, o partido não poderá rebater o noticiário sobre o caso.

- Durante o julgamento, vai acontecer o seguinte: ele fará uma caminhada durante o dia e se comunicará com 10 mil pessoas, por exemplo, e, à noite, os telejornais vão mostrar cenas do mensalão para a cidade toda - diz uma liderança do PT paulista.

Mesmo com todas as restrições, o petista conseguiu bancar a candidatura porque tem o controle de boa parte da máquina partidária local. Lula foi alertado, mas lavou as mãos quando viu que seria inútil tentar demovê-lo.

Ex-metalúrgico como Lula, João Paulo sempre teve grandes ambições políticas. Na época em que foi eleito presidente da Câmara, em 2003, falava em disputar o governo de São Paulo. O mensalão frustrou os seus planos. Agora, aos 54 anos, vai concorrer a prefeito de Osasco, cargo que já havia tentado três vezes.

O petista é réu no processo do mensalão porque sua mulher sacou R$ 50 mil, na época em que ele era presidente da Câmara, da conta de uma empresa do publicitário Marcos Valério, apontado como operador do esquema, em 2003. A agência de Valério ganhou uma licitação para prestar serviço à Câmara, na mesma ocasião. Ele responde pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato.

A defesa do deputado alega que o dinheiro havia sido pedido ao PT e tinha como finalidade pagar pesquisas eleitorais em municípios da região de Osasco. Argumenta ainda que o então presidente da Câmara não tinha ingerência sobre o processo de licitação que contratou a empresa de Valério. Também diz que se o seu objetivo fosse ocultar a origem do dinheiro não teria mandado a mulher sacar a quantia no banco.

Procurado por meio de sua assessoria de imprensa para comentar o julgamento e a candidatura, o petista informou que não falaria.