Título: Não existiu compra de votos nem utilização de dinheiro público
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 01/08/2012, O País, p. 3

A dois dias do julgamento, o advogado de José Dirceu nega incondicionalmente que o ex-ministro soubesse de empréstimos e repasses feitos a parlamentares

SÃO PAULO . Em entrevista por e-mail, o advogado José Luiz Oliveira Lima diz confiar na "experiência e competência" dos ministros do STF para que julguem sem a influência de pressões externas. "A versão de Roberto Jefferson não encontrou eco nas provas dos autos", diz ele.

A pedido do PT, Marcos Valério pagou R$ 55 milhões a 18 parlamentares da base aliada. Valério disse à Procuradoria Geral da República (PGR) que Dirceu sabia dos repasses. Mentiu?

Dezenas de testemunhas afirmam categoricamente que o ex-ministro José Dirceu não tinha conhecimento dos empréstimos e repasses. Marcos Valério não afirmou que o ex-ministro sabia, disse que ouviu dizer que ele tivesse conhecimento. Nas alegações finais, afastamos ponto por ponto as acusações.

Renilda Santiago, mulher de Valério, disse que Dirceu se reuniu com dirigentes do BMG e do Rural para tratar da relação dos bancos com o PT. Katia Rabello, do Rural, admitiu ter tratado de assuntos do banco com Dirceu. O ex-tesoureiro do PTB Emerson Palmieri diz ter viajado a Portugal, por indicação de Dirceu, para tratar com Valério. Os três estão equivocados?

Renilda afirmou somente que ouviu de Valério que o ex-ministro tinha conhecimento dos empréstimos. Dezenas de testemunhas ouvidas nos autos negam esse fato. Kátia jamais disse que tivesse conversado com o ex-ministro sobre os empréstimos. Sobre Portugal, as testemunhas, Miguel Horta, presidente da Portugal Telecom, e Antonio Mexia, desmentiram a versão de Palmieri.

Em um primeiro momento, Delúbio Soares disse que Dirceu sabia de tudo o que ele fazia. Depois, voltou atrás. O senhor acredita que ele fez isso para isentar Dirceu de culpa do episódio?

Delúbio jamais fez essa afirmação. Sempre disse que Dirceu não tinha conhecimento de assuntos financeiros do PT. Registre-se que dezenas de testemunhas corroboraram a fala de Delúbio.

Valério conseguiu um emprego para Maria Ângela Zaragoza, ex-mulher de Dirceu, e também um empréstimo no Banco Rural. Fez com que Rogério Tolentino comprasse o apartamento de Maria Ângela. Os favores não evidenciam uma relação próxima entre Valério e Dirceu?

Nunca existiu relacionamento entre Dirceu e Valério e os autos demonstram isso com clareza. As pessoas envolvidas na compra no apartamento, no emprego e no empréstimo afirmaram que o ex-ministro não tinha conhecimento destes fatos.

A PGR se ateve aos fatos ou exagerou na condução da ação penal?

O que ficou demonstrado na ação penal 470, que tramitou por cinco anos, é a total improcedência das acusações apresentadas pela PGR. Essa inconsistência fica clara nos 500 depoimentos prestados. Não existiu a propalada compra de votos. Não é verdade que está comprovada a utilização de dinheiro público. A versão de Roberto Jefferson não encontrou eco nas provas.