Título: Inquérito de Demóstenes passa para Justiça comum
Autor: Barbosa, Givaldo
Fonte: O Globo, 02/08/2012, O País, p. 10

BRASÍLIA O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski determinou ontem que o inquérito aberto contra o ex-senador Demóstenes Torres passe a tramitar no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1). O ministro atendeu pedido feito na semana passada pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel.

Demóstenes teve seu mandato de senador cassado há 15 dias, após ser apontado como principal operador político do bicheiro Carlinhos Cachoeira, preso em fevereiro pela Polícia Federal durante a Operação Monte Carlo. Como parlamentar, ele tinha direito a foro privilegiado no STF, mas, agora, está sem mandato e já reassumiu o cargo de procurador de Justiça no Ministério Público de Goiás (MP-GO), do qual estava licenciado há 13 anos.

Na decisão, Lewandowski diz que, "com a cassação do mandato de senador da República, o qual era exercido pelo investigado, cessa competência originária criminal deste Supremo Tribunal Federal". Acrescenta: "Caracterizada a incompetência deste Supremo Tribunal Federal para o prosseguimento das investigações, determino a remessa do presente inquérito e respectivos apensos ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região para a adoção das providências que entender cabíveis".

DEPOIMENTO DE CACHOEIRA É ADIADO

Já Cachoeira esteve ontem à tarde na 5ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do DF, sob forte escolta policial, para participar de audiência sobre processo resultante da Operação Saint-Michel, em curso na vara. O bicheiro, que está detido no Presídio da Papuda em Brasília, chegou pela garagem às 13h40m e, às 14h30m, subiu ao sétimo andar do prédio do tribunal. Magro, abatido, algemado e vestindo uma camisa azul de manga longa, Cachoeira foi mantido sob forte esquema de proteção durante a audiência. Deixou o prédio às 18h sem falar nada: seu depoimento e os de mais seis réus foram adiados para o próximo dia 29. O advogado representante do bicheiro integra um escritório que atuou ao lado da equipe de Márcio Thomaz Bastos, que decidiu deixar o caso anteontem.

A Operação Saint-Michel foi deflagrada em abril como um desdobramento da Operação Monte Carlo. A Polícia Civil e o Ministério Público do DF encontraram indícios de que Cachoeira tentou assumir o controle da bilhetagem eletrônica do transporte coletivo na região, em favor da Delta Construções. Além do bicheiro, são réus no processo Gleyb Ferreira da Cruz, responsável por fazer intermediações ao grupo e remessas de dinheiro ao exterior; Geovani Pereira da Silva, contador do grupo; os ex-diretores da Delta Cláudio Abreu e Heraldo Puccini; dois lobistas e um vereador de Anápolis (GO). Os oito réus deveriam ser ouvidos ontem, mas apenas Gleyb prestou depoimento. Geovani e Heraldo são considerados foragidos da Justiça.

Primeiro, a juíza Ana Cláudia Barreto - que barrou a entrada da imprensa na sala de audiência - ouviu os relatos de duas testemunhas de acusação e duas de defesa. O primeiro a ser ouvido foi o secretário de Transportes do governo do DF, José Walter, seguido do ex-diretor do DFTrans - responsável pela licitação da bilhetagem -Milton Martins.

Gleyb decidiu falar, mas sem dar detalhes sobre a tentativa de direcionamento da licitação no DFTrans, com a suposta participação de um grupo de empresários coreanos. Ele confirmou que trabalha para Cachoeira e que o bicheiro tinha interesse na licitação da bilhetagem. Gleyb também contou que Cachoeira estava interessado em indicar a Delta para uma licitação de compra de tornozeleiras eletrônicas em Goiânia. O bicheiro queria 50% do faturamento, caso o negócio prosperasse. A defesa de Gleyb pediu a soltura do réu. O Ministério Público solicitou, então, vista dos autos para se manifestar sobre a revogação da prisão preventiva.

ANDRESSA DEVE SER OUVIDA NA CPI

Na CPI do Congresso, a namorada de Cachoeira, Andressa Mendonça, que foi acusada de chantagear um juiz federal, pode ser ouvida como acusada. Ontem, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) anunciou que pretende requerer que ela deponha, na terça-feira, não como mera testemunha.

- Eu tenho elementos para acreditar que essa moça não é um mero pombo- correio dos interesses da organização . Com o impedimento de Cachoeira tudo leva a crer que ela assumiu de fato a condução dos negócios da organização criminosa e deve depor como investigada - disse Randolfe.