Título: Brasil pressiona por resolução sem pedido de saída de Assad
Autor:
Fonte: O Globo, 03/08/2012, O Mundo, p. 32

Diplomatas fazem mistério sobre voto na Assembleia Geral, mas pedem texto equilibrado

BRASÍLIA Nos corredores da ONU, em Nova York, o Brasil figurava ontem na lista de países que ameaçavam um anteprojeto de resolução condenando a Síria, desta vez, na Assembleia Geral. Segundo diplomatas estrangeiros, a pressão brasileira - aliada a Rússia, China, Índia e África do Sul - sobre um texto elaborado pela Arábia Saudita foi tamanha que levou à remoção de um parágrafo exigindo a renúncia do presidente sírio, Bashar al-Assad.

A proposta a ser debatida e votada hoje pelos 193 países da Assembleia Geral das Nações Unidas tem valor simbólico. Mas, mesmo assim, a posição adotada em Brasília é de cautela. E a diplomacia brasileira faz mistério sobre o voto. O governo brasileiro defende um texto equilibrado, consensual e no qual fique claro que a transição seja conduzida pelo povo sírio e que determine o fim da violência praticada tanto pelo regime como pela oposição - condições para um endosso.

Sem MEDIAÇÃO, VÁCUO preocupa

Fontes diplomáticas afirmam que há uma grande preocupação com a divisão do Conselho de Segurança, denunciada pelo ex-mediador Kofi Annan. A renúncia dele e a falta de consenso podem pôr em xeque a credibilidade do sistema multilateral de decisões.

- Tememos um fracasso internacional. A posição do Brasil é de formar consenso. Mas ainda é cedo para falar, pois sequer sabemos como o texto será apreciado amanhã (hoje) - disse um experiente embaixador.

Segundo essa fonte, a avaliação do governo brasileiro é a de que a justificativa de Annan para deixar o posto foi bastante dura. Além de denunciar as divisões no conselho - numa referência velada à oposição de Rússia e China às tentativas de condenar a Síria - Annan também cobrou mais coragem dos presidentes russo, Vladimir Putin, e americano, Barack Obama.