Título: Analistas veem futuro incerto e pessimista para a Petrobras
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 04/08/2012, Economia, p. 26

Ramona Ordoñez, Bruno Rosa e Bruno Villas Bôas

O prejuízo da Petrobras de R$ 1,3 bilhão no segundo trimestre mostra que a companhia chegou ao fundo do poço, na opinião de analistas. Adriano Pires Rodrigues, do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), destacou que os efeitos do câmbio poderiam ter sido minimizados se a Petrobras pudesse ter repassado essa diferença para os preços finais dos combustíveis.

- Esse prejuízo mostra que a Petrobras não aguenta mais ser instrumento da política econômica do governo. Se isso continuar, a estatal vai caminhar para a destruição. Além disso, a empresa é usada para a política industrial. A obrigatoriedade de adquirir materiais e equipamentos junto à indústria nacional em grandes volumes prejudica a companhia, obrigando a empresa não apenas a pagar mais caro, como também atrasando seus projetos diante das dificuldades da indústria nacional de atender plenamente as demandas - alertou Pires.

Segundo Paulo Esteves, analista-chefe da Gradual Investimentos, o prejuízo pode ter sido o fundo do poço da companhia. Segundo ele, com o resultado, o governo pode ser mais amigável com a ideia de ajudar a reduzir a defasagem de preços da Petrobras.

- Pela própria necessidade da Petrobras de produzir caixa para investir em projetos relevantes, acho que o governo pode ser mais amigável com a ideia de ajudar a reduzir a defasagem de preços da Petrobras.

Produção não vai subir até 2013

Lucas Brendler, analista da corretora Geração Futuro, lembra ainda que os próximos meses serão de muitas incertezas para a estatal. Como a produção de petróleo da companhia vai permanecer no mesmo nível até o fim de 2013, a empresa ficará refém da cotação do dólar em relação ao real e da defasagem de preços da gasolina e do diesel no mercado interno:

- Se houvesse repasse dos preços dos combustíveis, a empresa seria mais rentável para seus acionistas. É muita incerteza.

Um analista do setor, que preferiu não se identificar, disse que mais importante que os resultados apresentados ontem pela empresa é a falta de perspectiva de que a distorção nos preços será corrigida.

- Mas isso não deve ocorrer, já que o governo faz uso político da empresa. O mercado está cada vez mais preocupado com essa falta de perspectiva de correção de preços, pois a empresa não consegue gerar caixa o suficiente para dar conta de um plano de investimentos tão audacioso. A importação só sobe e as refinarias estão operando a plena carga, deixando a Petrobras em um cenário difícil- lembrou.

Segundo Luiz Otávio Broad, da Ágora, os resultados vieram muito abaixo da previsão de lucro de R$ 1,9 bilhão da corretora, que era, inclusive, uma das mais pessimistas do mercado.

- A expectativa já era bastante ruim. Era ruim por causa do câmbio, que provocaria perdas cambiais. E também era uma expectativa ruim por causa da defasagem de preços em relação ao mercado internacional. Os números vieram ainda piores - explicou Broad.