Título: Em terras brasileiras de pleno emprego
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 05/08/2012, Economia, p. 27

Último Censo indica que 20% das cidades têm taxa de desocupação menor que 3,5%

Enviada especial

MERCADO DE TRABALHO

BLUMENAU e RIO. "Não, não, definitivamente não conheço nenhum desempregado", disse André Thiago Hass, de 24 anos, fazendo esforço para lembrar de algum conhecido sem trabalho. Formado em sistemas de informação, o jovem é apenas mais um dos milhares que trabalham com tecnologia na charmosa Blumenau (SC). Como falta gente com qualificação, André - da mesma forma que Júlio, Robson ou Lucas - é disputado. Mas essa escassez de pessoal chega também a setores catarinenses mais tradicionais, como o têxtil. Assim, diversificando as atividades, a cidade atingiu o que muitos chamam de pleno emprego. Blumenau, porém, com sua desocupação em 2,74%, não está só: há outras 1.132 cidades, 20% das 5.565, com taxa abaixo dos 3,5%, segundo dados do Censo 2010.

- Uma a cada cinco cidades tem desocupação abaixo de 3,5%, um patamar baixíssimo. É um indicador, ainda que pouco usado para medir a desocupação, que expressa uma espécie de pleno emprego. Essas taxas refletem o auge do emprego em 2010. De todo jeito, se um censo fosse elaborado agora, não me surpreenderia se viesse com taxas menores - disse João Saboia, professor do Instituto de Economia da UFRJ.

Desemprego zero é o que se vê em Serra da Saudade, em Minas. Pequenina, a cidade mineira é a menos populosa do seu estado (menos de mil pessoas) e sua atividade gira em torno de agropecuária. Entre os mais de mil municípios com pleno emprego, há outras centenas de tamanho reduzido e de baixa relevância para o PIB. Mas também há Jaguará do Sul (com indústrias de confecções, metal-mecânicas e alimentos) ou Brusque (setores têxtil e metal-mecânico, além de turismo) em Santa Catarina; ou Nova Serrana (calçados), em Minas; ou Santa Cruz do Capibaribe (confecções), em Pernambuco. No Rio, a única praticamente sem desemprego é Sumidouro, a menos de 200 km da capital.

- O crescimento é o que melhor explica essa fotografia do Censo. Políticas públicas, como de transferência de renda, aumento do salário mínimo, contribuíram para que o desemprego atingisse um patamar baixo - explicou Cláudio Dedecca, professor de Economia da Unicamp, acrescentando que o envelhecimento da população também mexe com as estatísticas. - Não se pode ignorar que muitas dessas mil cidades podem ter baixa atividade econômica (sem emprego, as pessoas não procuram trabalho), ser cidades dormitórios ou ter muitos inativos.

O Censo é o único indicador que traz dados de todas as cidades, ao contrário da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) com informações de regiões metropolitanas. O Caged, que traz o saldo dos empregos formais, aponta para uma desaceleração por causa da crise externa. De janeiro a junho de 2010, foram criadas 1,63 milhão de empregos, ante 1,04 milhão até junho de 2012. Vagas são abertas, mas num ritmo menor.