Título: Com prejuízo, Petrobras joga para escanteio recuperação das ações
Autor: Haidar, Daniel
Fonte: O Globo, 06/08/2012, Economia, p. 22

daniel.haidar@oglobo.com.br

Quando as ações da Petrobras pareciam perto de melhorar, depois dos reajustes de combustíveis anunciados em junho e julho, a estatal surpreendeu o mercado ao divulgar o primeiro prejuízo líquido trimestral em 13 anos na noite da última sexta-feira. Com, a perda de R$ 1,346 bilhão registrada de abril a junho, analistas alertam que a situação pode piorar nos próximos pregões. Corretoras já começaram a revisar para baixo suas estimativas de preço para os papéis da maior empresa do país. E a maioria dos especialistas não vê dias melhores tão cedo: a recomendação é ficar fora das ações da Petrobras ao menos até o fim do ano.

A sugestão para quem já tem o papel é mantê-lo na carteira e não entrar em pânico se a cotação despencar nos próximos dias, até ser possível avaliar se há chance de recuperar no médio ou no longo prazo. Paulo Esteves, analista-chefe da corretora Gradual Investimentos, tinha recomendado a compra da ação preferencial (PN, sem direito a voto) da petrolífera na carteira mensal de indicações de agosto, divulgada no meio da semana passada. Ele continua a apostar que o desempenho operacional da empresa vai melhorar no terceiro trimestre, por reflexo dos aumentos de combustíveis feitos no fim de junho e no início de julho. Mas vai retirar o papel da recomendação na carteira de sugestões desta semana, antes de avaliar se a ação permanece na lista enviada aos clientes com recomendações para setembro. Só prevê ganhos significativos se a aplicação for mantida por no mínimo seis meses, ou seja, até o começo do ano que vem.

- Como os números frustraram muito o mercado, vai ter uma comoção no curto prazo. Mas, para quem já está com o papel, não vale a pena vender na segunda-feira no desespero, porque vai fazer um mau negócio. Continuo recomendando a ação para manter a partir de seis meses - diz ele.

Todo o mercado foi pego de surpresa. A previsão mais pessimista para o lucro da Petrobras no segundo trimestre era cair para R$ 1,259 bilhão, segundo a Bloomberg.

Ação era recomendada De 12 carteiras de corretoras consultadas pelo Globo antes da divulgação dos resultados, cinco recomendavam a compra de ação preferencial (PN, sem direito a voto) da Petrobras, enquanto duas sugeriam a aquisição do papel ordinário (ON, com direito a voto) por acreditar em maior chance de valorização. As indicações aos clientes já foram feitas, pois foram disparadas entre quarta-feira e quinta-feira. Após recomendar compra, corretoras como a BB Investimentos a Coinvalores não reagiram ainda aos resultados.

O analista William Alves, da XP Investimentos, avalia que comprar ação da Petrobras neste momento seria acreditar que o pior cenário já passou.

- A capacidade de refino continua espremida e a empresa ainda terá de importar gasolina. Nada que mude no curto prazo - diz Alves.

Mesmo depois de a ação PN ter subido 12,02% desde o anúncio do aumento do preço da gasolina e do diesel, de 7,83% e 3,94% respectivamente em 25 de junho, o papel ainda vale 77% do patrimônio líquido da empresa. Por isso era considerado barato por alguns especialistas. Henrique Kleine, analista-chefe da corretora Magliano, prevê que a situação deve piorar mais.

- Nesse momento não tem chance de a ação subir, até pela letargia que existe por parte do governo. Acredito que, com esse resultado, o preço da ação pode ficar até pior - diz.

Analistas consideram que o impacto nos resultados causado pela alta do dólar no aumento contábil da dívida foi momentâneo. Mas Ricardo Corrêa, analista-chefe da Ativa corretora, lembra que outros entraves permanecem como desafios para a empresa reforçar a geração de lucros e voltar a ganhar valor na Bolsa:

- Os problemas permanecem os mesmos: produção fraca, custos em elevação e defasagem entre gasolina comprada no exterior e preço praticado no mercado interno. Com um prejuízo dessa intensidade, é natural que o mercado tenha uma reação forte.

O desempenho das ações da petrolífera só deve melhorar se a gestão da empresa demonstrar mais compromisso em gerar lucro para os acionistas, diz o analista da Ativa.

- Vai ter que mostrar resultados e comprometimento com o acionista, no desempenho operacional, no controle de custos e no alinhamento do controlador (governo) com o acionista minoritário, que seria o fim do uso da Petrobras para controle da inflação.