Título: De alta, Jefferson diz que salvou o Brasil de José Dirceu
Autor: Bruno, Cássio
Fonte: O Globo, 06/08/2012, O País, p. 4
Ex-deputado cassado e réu no processo do mensalão afirma que julgamento consolida democracia
UM JULGAMENTO PARA A HISTÓRIA
Ainda debilitado devido à operação feita para o tratamento de um tumor maligno no pâncreas, o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), de 59 anos, que foi cassado em 2005, recebeu alta ontem e atacou José Dirceu (PT), ex-ministro da Casa Civil no governo Lula. Roberto Jefferson disse, antes de deixar o Hospital Samaritano, no Rio, que "salvou o Brasil de Dirceu". O petebista foi o delator do mensalão, e Dirceu é apontado na denúncia como o chefe da quadrilha. Ambos são réus no processo.
- A minha luta era com o Zé Dirceu. Ele me derrubou, mas eu salvei o Brasil dele. Isso para mim é satisfatório. Ele (José Dirceu) não foi, não é e não será presidente do Brasil. Caímos os dois - afirmou Jefferson, apesar de dizer que não tem "ódio e ressentimento" por Dirceu.
Roberto Jefferson afirmou que a luta, a partir de agora, é da opinião pública:
- Meu octógono de luta com ele (José Dirceu) já exauriu. Agora, a luta é de vocês (jornalistas), da opinião pública e dos ministros (do Supremo Tribunal Federal).
ministros são "seres humanos como nós"
O ex-deputado revelou também que tem acompanhado todo o julgamento do mensalão pela televisão. Segundo ele, o momento é de "afirmação da democracia no país".
- É o maior momento de afirmação da democracia no Brasil. Nunca nossas instituições de direito democrático foram tão sólidas - disse.
Jefferson comentou ainda o bate-boca entre os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Levandovski no primeiro dia de julgamento. O impasse ocorreu depois que Márcio Thomaz Bastos, um dos advogados de defesa dos réus, pediu o desmembramento do processo.
- Eles (Barbosa e Levandovski) são seres humanos como nós. Quando você é muito exposto na mídia, suas virtudes são ressaltadas, e os seus defeitos, também. Como aquela Corte está sob o controle total da mídia, os defeitos ficam exponenciais - apontou Roberto Jefferson.
EX-DEPUTADO ELOGIA ACUSAÇÃO DE GURGEL
O ex-deputado falou ainda sobre o relatório de acusação lido pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel:
- O procurador fez uma bela peça de acusação. Foi muito eficaz, apesar de a prova ser frágil. Ele tem razão em muitas coisas que falou durante as cinco horas em que leu o relatório. Mas também não tem razão em tantas outras.
Na última sexta-feira, o procurador-geral da República pediu a prisão de 36 réus. Gurgel pediu a absolvição, por falta de provas, de dois acusados: o ex-secretário de Comunicação Luiz Gushiken e Antonio Lamas, ex-tesoureiro do extinto Partido Liberal (hoje PR), uma das cinco formações implicadas no escândalo.
Jefferson voltou a defender o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para o petebista, Lula não sabia do mensalão, mas ele deu a entender que seu advogado, Luiz Francisco Barbosa, citará o ex-presidente em sua defesa. Em entrevista ao GLOBO, há duas semanas, Barbosa afirmou que o ex-presidente não só sabia do esquema fraudulento, como também o ordenou.
- Ele (Barbosa) deduz com raciocínio constitucional. E eu só afirmo aquilo que eu vi - acrescentou o ex-deputado, que disse torcer para que o STF "faça justiça" e que a Corte "afirme a democracia do Brasil".
Ao lado da mulher Ana Lúcia e de assessores, Roberto Jefferson fez uma avaliação do diagnóstico da doença:
- Eu sou um guerreiro. Já peitei o PT sozinho, de frente. O que não vou fazer com um cancerzinho de pâncreas? Vou dar de pau nele - declarou o ex-deputado.
Jefferson foi o delator do mensalão, em 2005, denunciando o esquema de propina em troca de apoio parlamentar. Acusou José Dirceu de fechar acordo para o PTB receber R$ 20 milhões; no entanto, ganhou em nome do partido R$ 4 milhões. Mas diz que esse dinheiro foi usado pelo PTB nas eleições de 2004, e não para comprar o apoio do seu partido no Congresso em favor do governo Lula, entre 2003 e 2004. Jefferson foi cassado em 2005 e perdeu seus direitos políticos por oito anos. Em 2011, reassumiu a presidência do PTB, da qual se afastara em 2005.