Título: Na primeira sessão para a defesa, ministros demonstram cansaço
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 07/08/2012, O País, p. 4

Advogados admitiram nervosismo ao subir à tribuna do Supremo

Jailton de Carvalho

Evandro Éboli

Cansaço. Nas mais de cinco horas de sessão ontem, o relator Joaquim Barbosa (ao lado) e os ministros Gilmar Mendes e Celso de Mello demonstram cansaço diante da repetição de argumentos

Fotos de André Coelho

Um julgamento para a história

BRASÍLIA No terceiro dia de julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), alguns ministros deram sinais de cansaço. Os ministros Joaquim Barbosa, relator do processo, Gilmar Mendes e Celso de Mello chegaram a fechar os olhos ao longo da sessão de ontem.

A aparente fadiga dos magistrados contrastava com o nervosismo dos advogados escalados para falar durante a sessão. O julgamento começou na semana passada e deve se estender até setembro, conforme cálculos feitos pelos próprios defensores.

O cansaço dos ministros foi notado até mesmo pelo presidente do Supremo, Ayres Britto. No encerramento da sessão, depois de mais de cinco horas de discursos, Ayres Britto disse que iria sugerir o fim dos trabalhos para não prejudicar os advogados.

- A defesa leva desvantagem por pegar julgadores cansados quando a sessão é muito longa - disse o presidente.

Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes chegaram a fechar os olhos várias vezes durante a sessão, até mesmo num dos momentos em que os fotógrafos foram autorizados a entrar no plenário e registrar cenas do julgamento.

A entrada dos fotógrafos é sempre o momento mais ruidoso das sessões, em geral silenciosas. Alberto Toron, advogado de João Paulo Cunha (PT-SP), disse que é difícil para qualquer espectador prestar atenção numa fala superior a 50 minutos.

na defesa, SUOr e pigarro

Enquanto os advogados falavam, os ministros Luiz Fux e Cármen Lúcia faziam anotações. Os ministros Marco Aurélio Mello, Rosa Weber, Cezar Peluso fizeram consultas aos documentos do processo por várias vezes.

No lado oposto, era evidente o nervosismo de alguns advogados. José Luís de Oliveira Lima, defensor de José Dirceu e o primeiro a falar, confessou que estava tenso logo na abertura da exposição.

- Advogado que não sente um frio na barriga, que não fica com as mãos geladas, não fará uma boa defesa - disse Oliveira Lima ao chegar ao púlpito para defender Dirceu.

Em mensagem enviada pelo celular ao advogado, Dirceu mandou um agradecimento: "eternamente grato".

Luiz Fernando Pacheco, encarregado da defesa de José Genoino, estava ainda mais tenso. Bebericou num copo d"água, revirou páginas do discurso e enxugou o suor do rosto todo o tempo.

Pacheco só relaxou um pouco ao terminar a explanação e saiu do plenário para fumar um cigarro.

- O nervosismo é a contrapartida do senso de responsabilidade - disse Pacheco.

Arnaldo Malheiros afirmou que se sentiu aliviado após defender Delúbio Soares no plenário do STF. Acometido de um pigarro durante sua fala, atribuiu o problema à seca de Brasília. Ele usou apenas 33 minutos do tempo de uma hora para apresentar seus argumentos.

- Não usei mais tempo por falta de carga acusatória e também para não encher a paciência dos ministros - explicou Malheiros.

Defensor de Marcos Valério, Marcelo Leonardo afirmou que estava com a sensação de "dever cumprido". Contou que recebeu mensagens no celular elogiando sua atuação. A mais comemorada foi a de seu pai, o advogado Jair Leonardo Lopes, de 88 anos, que ainda atua no Direito:

- Receber elogio dele é tudo para mim.