Título: Meu cliente (Dirceu) não é quadrilheiro
Autor: Brígido, Carolina; Souza, André de
Fonte: O Globo, 07/08/2012, O País, p. 5

Lembrando passado militante de ex-chefe da Casa Civil, advogado diz que depoimentos o inocentam

Carolina Brígido

André de Souza

Givaldo Barbosa

Um julgamento para a história

BRASÍLIA Primeiro advogado a subir na tribuna do plenário do Supremo, José Luís de Oliveira Lima evocou o passado de luta contra a ditadura de seu cliente José Dirceu, mas disse ontem que está pedindo a absolvição com base nos autos. Segundo Lima, o Ministério Público não conseguiu comprovar que Dirceu era, de fato, o chefe da quadrilha do mensalão, ou que teria subornado parlamentares no Congresso. O advogado alegou que "dezenas de depoimentos" atestam a inexistência do esquema:

- José Dirceu foi, nos últimos cinco anos, a pessoa mais investigada do Brasil. Meu cliente não é quadrilheiro, não é chefe de organização criminosa e quem diz isso são os autos. Não peço a absolvição de José Dirceu pelo passado de 40 anos de vida pública sem qualquer mancha, porque não estou no Congresso. Peço a absolvição com base nas provas dos autos.

Para Oliveira Lima, o MP preferiu fechar os olhos para as provas dos autos.

- O pedido de condenação de Dirceu com base no que está nos autos é o mais atrevido e escandaloso ataque à Constituição - disse ele, parafraseando o procurador Roberto Gurgel, para quem o mensalão foi "o mais atrevido" escândalo político do país.

Oliveira Lima disse que o processo tem mais de 600 depoimentos de testemunhas e nenhum incrimina Dirceu:

- Se não se pode dar credibilidade a esses depoimentos, as testemunhas têm que ser processadas por falso testemunho. O MP não deixou de comprovar sua tese por inércia ou incompetência, mas porque não é verdade que aconteceu a propalada compra de votos.

A denúncia do MP lista depoimentos apontando o envolvimento do ex-ministro. O ex-deputado Pedro Correa diz que Dirceu sabia das negociações do PP com o PT. Valdemar Costa Neto fala de reuniões na casa de Dirceu, e o próprio Roberto Jefferson insiste que Dirceu sabia de tudo. A ex-mulher de Marcos Valério, Renilda Fernandes, diz que, segundo Valério, Dirceu sabia dos empréstimos.

Usando só 45 minutos da hora a que tinha direito, Oliveira Lima rebateu os pontos contra Dirceu. Negou que o cliente tenha oferecido dinheiro a parlamentares por apoio. Segundo ele, não há provas nos autos de relação entre o resultado de votações no Congresso e recebimento de recursos. Quando havia os saques mais vultosos, disse o advogado, o governo perdia as votações:

- Não existe nenhum depoimento de testemunha nesse sentido. O Ministério Público não aponta essa prova e se atém ao depoimento de Jefferson.

O advogado questionou a idoneidade de Jefferson, que, segundo ele, sofria a ameaça de ser investigado em CPI por corrupção nos Correios.

Oliveira Lima alegou que Dirceu, após assumir a Casa Civil, afastou-se de questões administrativas e financeiras do PT. Acrescentou que, com esse argumento, seu cliente não está afirmando que os empréstimos eram ilegais. Para o MP, os empréstimos eram fictícios, pois serviam para acobertar o desvio de dinheiro usado para financiar os acordos com integrantes da base aliada:

- José Dirceu tinha importância no PT, mas, na chefia da Casa Civil, deixou de participar da vida do partido. Com agenda completa, como poderia ser ministro de um governo que se iniciava e cuidar da administração do partido?

Oliveira Lima também disse que seu cliente não era próximo de Valério. Na acusação, Gurgel citou reunião na Casa Civil à qual Valério teria comparecido:

- O fato de Valério ter participado dessa reunião não quer dizer que Dirceu tenha compromisso com essa pessoa.