Título: Para que serve a sustentação oral no Supremo?
Autor: Souza, André de; Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 07/08/2012, O País, p. 6

Começaram as sustentações orais do mensalão. Serão no mínimo 38 advogados, 38 horas, além das cinco já dedicadas à acusação. Essa importante etapa do julgamento permitiria aos ministros conhecerem as versões dos réus e, assim, formularem seus juízos. A fala da defesa é parcial, mas fundamental na construção da decisão imparcial.

A sustentação oral será mesmo necessária? Os ministros do Supremo têm laptops . Já receberam e leram meses antes, digitalizadas, as defesas dos réus e o registro de todas as provas e argumentos relevantes. Conhecem as teses dos dois lados. Será tempo desperdiçado? Para serem imparciais, os ministros precisam ser ouvintes de um replay do que já leram?

Melhor seria se usassem o momento das sustentações para fazer perguntas aos advogados. O regimento do Supremo permite - a cultura processual é que não. Com um caso tão complexo e cheio de personagens, certamente há esclarecimentos a pedir. Poderiam questionar as teses, mostrar suas contradições mútuas e lacunas e dialogar com os advogados, como acontece em muitos outros países.

Ao ser mais proativo, o Supremo incentivaria o contraste de argumentos - não entre os próprios ministros, o que ocorrerá mais tarde, mas com os próprios advogados. No silêncio do Supremo, a verdade escolhida por cada advogado se apresenta como única - e, pela TV Justiça, sai dos autos do processo para atingir o público em geral.