Título: Advogado de Genoino atribui a Delúbio culpa por empréstimos
Autor: Souza, André de; Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 07/08/2012, O País, p. 6

Defesa do ex-presidente do PT reafirma que só tesoureiro cuidava de finanças

André de Souza

Carolina Brígido

André Coelho

um julgamento para a história

BRASÍLIA Luiz Fernando Pacheco, advogado do ex-presidente do PT José Genoino, seguiu o roteiro previsto, negou a existência do mensalão e jogou no ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares a culpa pelos empréstimos tomados nos bancos Rural e BMG. Na sustentação oral que fez ontem, no Supremo Tribunal Federal (STF), Pacheco usou 40 minutos dos 60 a que teria direito, e argumentou que seu cliente não cuidava das finanças do partido.

- Assumiu (Genoino) em 2003 o PT. O PT estava com as finanças em frangalhos, isso é público e notório, por conta de dívidas de 2002 e porque os diretórios estaduais estavam todos inadimplentes. Todos sabiam disso. A solução foi delegada para o secretário de Finanças e Administração (Delúbio). O diretório nacional optou por fazer os empréstimos. O tesoureiro procurou instituições financeiras, negociou os termos dos empréstimos. Essa é e sempre foi a palavra do próprio Delúbio Soares - afirmou Pacheco.

Além de mencionar Delúbio, Pacheco citou o depoimento de outros réus e testemunhas, inclusive parlamentares. Nesses depoimentos, a linha de raciocínio é sempre a mesma: Genoino não tratava das finanças do partido, cabendo-lhe a articulação política:

- Não tem (Genoino) qualquer aptidão para tratamento de finanças, mas é um expert, ao longo de 24 anos de Congresso Nacional, na articulação política. Exatamente por isso a articulação cabia a ele. Havia no diretório (nacional do PT) uma divisão de tarefas.

A Procuradoria Geral da República (PGR) pensa diferente. Nas alegações finais do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, Genoino é apontado como "o interlocutor político do grupo criminoso".

Para Gurgel, Genoino, representando o então ministro da Casa Civil José Dirceu, "além de conversar com os líderes partidários, convidando-os a apoiar os projetos de interesse do governo, procedia ao ajuste da vantagem financeira que seria paga caso aceitassem a proposta".

Ontem, Pacheco disse que a acusação da PGR não especifica o que Genoino fez de errado. Para o advogado, seu cliente está sendo acusado simplesmente porque era presidente do PT na época. Ele chegou a comparar a acusação da PGR à inquisição e ao nazismo.

- Queima porque é bruxa. É porque é bruxa que queima. É o direito penal do terror. É o direito penal do inimigo. É o direito penal nazista. É judeu, então mata. E mata porque é judeu. É petista? É presidente do PT? Tem que ir para a cadeia - desabafou.