Título: Para dar a volta por cima
Autor: Ordoñez, Ramona; Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 07/08/2012, Economia, p. 21

Petrobras corta custos e admite mudar dividendos para melhorar desempenho

Para se recuperar do megaprejuízo de R$ 1,3 bilhão do segundo trimestre deste ano, e como não poderá contar com a recuperação total da defasagem de preços dos combustíveis, a Petrobras está implementando programas para reduzir seus custos operacionais. A presidente da estatal, Maria das Graças Foster, afirmou ontem, em conferência com analistas, que tem "sistematicamente" apresentado ao governo a diferença dos preços da gasolina e do diesel no Brasil em relação ao exterior. Com o fraco resultado, a empresa quer alterar a sua política de dividendos para os donos das ações ordinárias (ONs, com direito a voto). O objetivo é neutralizar o resultado negativo, distribuindo mais dividendos aos acionistas que detêm esses papéis, como a União, controladora da companhia.

Normalmente os resultados da Petrobras são divulgados por Almir Barbassa, diretor financeiro. Desta vez, a própria presidente fez questão de participar da apresentação, ao lado de outros diretores. Diante do primeiro prejuízo da estatal em 13 anos, Graça destacou que tem de "trabalhar a favor da paridade de preços":

- A Petrobras está sistematicamente apresentando aos seus conselheiros a importância do repasse dos preços aos consumidores. E na última reunião do conselho (sexta-feira), mostramos que ainda há descolamento nos preços. Eu tenho feito de forma rotineira. Mas o que pensou o governo, eu não sei. A minha obrigação é estar quantificando, qualificando e informando de forma sistemática ao controlador e aos conselheiros. O reajuste tem que ser feito periodicamente e não instantaneamente, pois a política de preços é de médio e longo prazos.

perda com preços chega a R$ 5,2 bilhões

Ontem, no primeiro dia após o anúncio dos resultados, as ações abriram em queda superior a 5%, mas se recuperaram. Os papéis preferenciais (PN, sem direito a voto) encerraram em baixa de 0,10% (R$ 19,92). Os ON, após cair 5,70%, fecharam em alta de 0,15% (R$ 20,70). Barbassa ressaltou que será encaminhada ao conselho proposta para alterar a distribuição dos dividendos das ações ON, cujo ganho seria baseado sob os 3% do patrimônio líquido, como já ocorre com os detentores das PNs.

- Hoje, as ONs são guiadas pela distribuição de 25% do lucro líquido. Com o prejuízo, o dividendo ficará afetado.

Graça frisou que o prejuízo não foi causado só pela defasagem dos preços, que está em torno de 20,6% no diesel e 18,1% na gasolina. A alta do dólar, diz, foi o principal efeito, com despesas financeiras de R$ 6,4 bilhões. A diferença de preços dos combustíveis cobrados no Brasil em relação ao exterior levou a perda de R$ 5,2 bilhões entre abril e junho, totalizando R$ 9,4 bi no semestre, diz o Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE). A estatal gastou US$ 6 bilhões com importações de derivados de janeiro a junho. E, nos próximos meses, para cortar despesas de importações , a Petrobras está colocando em operação unidades em diferentes refinarias, que produzirão mais, principalmente diesel.

Os diretores da companhia afirmaram ainda que a empresa somou 41 poços secos, que não apresentaram resultado e afetaram o ganho.

- O prejuízo veio por uma série de razões. Algumas dependem da Petrobras, outras não. Podemos fazer previsões e estoques maiores, quando houver depreciação maior do real, mas não tenho bola de cristal. Não podemos imaginar que o resultado será sempre na direção de ter paridade. Temos que estar preparados. Tivemos dois aumentos, e eles ainda não fizeram se sentir. O reflexo só será sentido no terceiro trimestre. Eu preciso ter mais preço, mas melhor desempenho de cada área, reduzindo ao máximo seus custos operacionais - afirmou Graça.

A executiva disse ainda que a Petrobras vai lançar em setembro o programa de redução de custos em suas operações de logística, idêntico ao do aumento de eficiência nos sistemas mais antigos de produção da Bacia de Campos, lançado há algumas semanas. Apesar das perdas, Graça é otimista com os próximos resultados:

- Estou confiante com a melhoria e a solidez da empresa. Estamos recuperando a eficiência e vamos elevar a produção no quarto trimestre. Manteremos nossa meta de elevar a produção em 2% este ano (no segundo trimestre, a produção total de petróleo e gás natural caiu 4%).

Graça defende investimento em etanol

Além do corte de custos, Barbassa citou outras ações para aumentar o caixa da companhia. Uma delas é a troca de uma dívida de longo prazo de R$ 5 bilhões por bens com a Petros, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras.

- Esses recursos entram no caixa. Também estamos renegociando capital de giro de fornecedores em atraso. A entrega de combustível a subsidiárias da Eletrobras com atraso em pagamento será com garantias da própria empresa.

Um dado que chamou a atenção dos analistas foi o número de poços secos. No segundo trimestre, o total chegou a 41 (quase o dobro em relação a igual período de 2011), mas não deve se repetir nos próximos trimestres, disse Graça. Porém, destacou que o desafio, entre 2013 e 2014, será administrar resultados negativos de exploração com a política de desenvolvimento.

- A exploração depende da Petrobras, da nossa capacidade de fazer esse planejamento e segui-lo à risca - disse Graça, lembrando que a taxa de sucesso foi de 60% entre janeiro e junho. No pré-sal, a taxa de sucesso é de 94%.

Como forma de minimizar as importações de gasolina, Graça disse que a companhia continuará ainda investindo em etanol.

- O etanol volta, ele não foi embora. Temos que acelerar os investimentos. Gasolina e álcool são inseparáveis - afirmou Graça.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse que o prejuízo não vai alterar o cronograma de liberação dos empréstimos.

- A Petrobras é uma empresa saudável e equilibrada, e não vai ser o resultado de um trimestre que vai inviabilizar o programa de investimentos e o suporte do BNDES.