Título: As tabelas e os gráficos de Delúbio
Autor: Gama, Júnia
Fonte: O Globo, 08/08/2012, O País, p. 4

A defesa de Delúbio Soares argumentou com citações doutrinárias, leis, testemunhos, tabelas e gráficos. O que eles dizem e provam?

A primeira tabela mostra o total de depoimentos judiciais transcritos nos autos. Seriam cerca de 400. Ali se informa que ninguém teria conversado com seu cliente sobre compra de votos ou ouvira falar sobre possível compra de votos. Esse dado é irrelevante, pois quem se arriscaria a dizer o contrário?

A tabela seguinte, total de depoimentos judiciais de deputados federais e senadores, registra que ninguém confirmou haver recebido diretamente recursos do PT, e que nenhum declarou que os recursos "recebidos" (sic) eram destinados à compra de votos. Mas poderia um congressista admitir haver obtido pagamento para esse fim ilegal? Seria uma confissão.

Logo, esses testemunhos são descartáveis. Sua apresentação pela defesa parece zombar da inteligência dos ministros.

A defesa também apresentou gráficos sobre o comportamento dos partidos, para provar que não houve correlação positiva entre doações e votações.

Mas o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, não afirmou que todos os congressistas votariam todo o tempo com o governo. Nem que o dinheiro teria sido repassado para todas as votações. Assim, a existência de congressistas da base do governo que não votaram com ele em algumas ocasiões não contraria a acusação.

Por outro lado, o fato de congressistas do PSDB e do DEM terem votado com o governo, em alguns casos, não favorece nem desfavorece a defesa, sendo irrelevante mencioná-los.

São acontecimentos logicamente independentes.

Resumindo: a recusa de alguns congressistas da base governamental em apoiar algumas propostas do governo não refuta a acusação, porque Gurgel não afirmou que todos esses congressistas teriam sido comprados todo o tempo. Ele não afirmou uma correlação perfeita ente repasses e votações.

Também não debilita Gurgel o fato de que, em alguns momentos, teria havido decréscimo do apoio de algum partido da base governamental, mesmo tendo havido repasse. Isso porque os repasses teriam por objetivo comprar votos em um jogo continuado, e, portanto, poderiam ir também para partidos que em uma ocasião votavam contra o governo, na esperança de que votassem a favor na próxima.

Se a acusação conseguiu comprovar sua tese, isso ainda não se sabe. Tudo o que se diz aqui é que a defesa não a enfraqueceu com esses argumentos. Suas tabelas e gráficos permanecem inconclusivos.