Título: Inflação oficial sobe 0,43% em julho, bem acima do esperado
Autor: Ribeiro, Fabiana; Corrêa, Marcello
Fonte: O Globo, 09/08/2012, Economia, p. 24

Tomate tem alta de 50%. Reajuste da gasolina será novo impacto

SOB PRESSÃO

A inflação oficial - o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - voltou a subir em julho, saindo de uma taxa praticamente nula (0,08%) em junho para 0,43% no mês passado, bem acima do 0,37% previsto pelo mercado. Os preços dos alimentos puxaram as altas e devem continuar em aceleração. Mas uma ameaça pode dar mais fôlego ao IPCA: a gasolina. Se confirmado reajuste que cubra a defasagem de preços, de 10% a 15%, analistas já estimam que a inflação ficará em até 5,3% este ano, mais longe do centro da meta estabelecida pelo governo, de 4,5%.

Caso o governo autorize o reajuste da gasolina pela Petrobras, o impacto no IPCA de 2012 será de 0,20 a 0,30 ponto percentual, segundo os cálculos dos analistas.

Juros devem seguir em queda

Ontem o IBGE informou que, nos últimos 12 meses, a inflação avançou de 4,92% para 5,20%. No ano, a alta chega a 2,76%.

Segundo Eulina Nunes, coordenadora do IPCA do IBGE, a inflação de julho foi influenciada pelo comportamento dos alimentos. Apenas o preço do tomate - por causa de chuvas em regiões produtoras - subiu 50,33% no mês passado, respondendo por um quarto do índice total.

No Rio de Janeiro, a alta do tomate foi ainda maior: 94,18%. Em todo o país, o grupo de Alimentos e Bebidas acelerou de 0,68% para 0,91% em julho.

- O impacto das commodities aparece no índice. Nos EUA, houve queda de safra generalizada por causa da seca, afetando os preços de milho, trigo e soja. Aqui, sentimos a alta no óleo de soja (que encareceu 1,02%) e no pão (1,78%) - disse Eulina.

Nas contas de Thiago Curvelo, economista da Tendências, as projeções para o IPCA de 2012 estão em 5,10%. Passam para 5,30% caso se confirme aumento de 5% na gasolina para os consumidores. Ou seja: impacto de 0,20 ponto percentual. Já para Fábio Romão, da LCA, um reajuste de 10% na gasolina pode elevar o IPCA de 2012 de 4,9% para 5,2%.

Os combustíveis ficaram 0,65% mais baratos em julho e, no ano, 2,68%. O preço da gasolina recuou 0,43%, no mês passado e, no ano, 2,26%. E o do etanol, 2% e 5,94%, respectivamente.

- A gasolina não tem força suficiente para colocar em risco o teto da meta de inflação (de 6,5%) - disse Romão.

O economista André Perfeito, da Gradual Investimentos, também não vê riscos de o IPCA subir acima de 6,5% este ano, mesmo com reajuste da gasolina. E, para ele, um reajuste do combustível deve ficar para depois das eleições.

- A inflação está muito localizada em choques de oferta de alimentos. Foi a inflação do tomate. Ruim, sim. Preocupante, também. Mas nada que interrompa a queda de juros - afirmou Perfeito.

Além da gasolina, a pressão dos alimentos deve continuar. Curvelo lembra que o país sentirá mais impactos da seca americana, encarecendo soja e milho - o que influenciará os preços da ração animal e das carnes.

Eulina destaca que os serviços pesaram na inflação. Ficaram mais caros alimentação fora de casa (1,13%), aluguel (1,16%) e empregado doméstico (1,37%). A redução do IPI não teve impacto na inflação de julho, ao contrário do que houve em junho (-2,48%). Em julho, não houve variação nos preços de veículos. Os preços dos novos tiveram variação praticamente nula (0,01%), e os dos usados caíram 0,91%.

Mesmo com essa pressão nos preços, os analistas continuam apostando em mais reduções na Selic. Taxas mais baixas ajudam a estimular a economia, que vem apresentando resultados decepcionantes. Ao aquecer a economia, pode dar um gás na inflação. A taxa de juros já está em seu valor mais baixo na História, 8% ao ano.

Romão acredita que o BC se voltará mais para o nível da atividade econômica do que para a inflação. E, por isso, aposta em mais um corte de 0,5 ponto percentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC.

- A inflação não é ameaça.

Inflação sobe de patamar

A perspectiva para 2013 não é positiva, alerta Sergio Vale, economista da MB Associados. Dada a expectativa de crescimento do PIB de 3%, ele acredita que o país caminha gradualmente para um IPCA próximo de 6%, "com riscos cada vez maiores de números mais elevados do que este". Estruturalmente, a inflação brasileira está subindo de patamar, afirmou Vale.