Título: Petrobras aditivada
Autor: Bôas, Bruno Villas; Haidar, Daniel
Fonte: O Globo, 09/08/2012, Economia, p. 23

Ações da estatal sobem 5% com provável reajuste dos combustíveis. Lobão defende alta

SOB PRESSÃO

-RIO E BRASÍLIA- O possível reajuste dos preços dos combustíveis nas bombas ainda este ano para melhorar os resultados da Petrobras, como antecipou ontem O GLOBO, provocou uma corrida de investidores para as ações da companhia. Os papéis ordinários (ON, como voto) da petroleira chegaram a avançar 5,57% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), antes de terminar o pregão em alta de 5,43%, a R$ 22,14. Já os preferenciais (PN, sem voto) ganharam 4,59%, a R$ 21,18. É o maior valor das ações em três meses, o que permitiu à estatal superar a britânica BP e voltar a ser a quinta maior petroleira do mundo em valor de mercado. Ontem, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, defendeu o reajuste dos combustíveis. Ele disse que o aumento é uma possibilidade, mas que ainda não foi tomada uma decisão. A grande preocupação do governo, segundo o ministro, é com o impacto na inflação.

- O reajuste é necessário. Há nove anos não se faz nenhum reajuste na bomba de combustíveis. Mas a preocupação do governo com a inflação também é permanente. Então, temos a necessidade de pesar as duas coisas. De um lado a necessidade de fazer o reajuste e, do outro, a preocupação com o processo inflacionário - disse Lobão, durante o lançamento do Programa de Prevenção aos Desastres Naturais. - O governo gostaria de esperar um pouco mais, porém a necessidade é tão grande que poderá ter que vir a ceder diante da necessidade. Não vislumbramos outro instrumento para socorrer a Petrobras que não o aumento.

Apesar de o ministro ter mencionado que não há reajuste nas bombas há nove anos, em setembro de 2005 (ou seja, há sete anos) houve aumento nos preços da gasolina para o consumidor.

Bolsa avança 2,12% e dólar cai

O ministro informou que a avaliação sobre o valor do reajuste vem sendo feita pelos ministérios da Fazenda e Minas e Energia. E o reajuste "ajudaria muito" na produção de etanol. O ministro sustenta que há uma necessidade de se produzir mais etanol, mas que produtores reclamam de preços baixos.

Já o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse por meio de sua assessoria de imprensa que não há perspectiva de um novo reajuste dos combustíveis.

Desde que divulgou seu primeiro prejuízo em 13 anos, de R$ 1,34 bilhão na última sexta-feira, o valor de mercado da Petrobras avançou em cerca de R$ 17 bilhões, para R$ 283,4 bilhões no fechamento da Bolsa ontem. A empresa avança com investidores apostando num novo reajuste dos combustíveis.

Para Rogério Oliveira, da Icap Corretora, além do reajuste dos combustíveis, as ações sobem ajudadas pela possível mudança da política de dividendos (participação nos lucros) da empresa, o que beneficia acionistas:

- Parece que lentamente o mercado está vendo uma melhora na gestão da companhia.

Já Gustavo Brunetto, diretor de gestão de terceiros da corretora Solidus, acredita que as ações da Petrobras foram ajudadas pela expectativa de que o Banco Central Europeu e Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciem, em breve, uma nova rodada de estímulo monetário.

- O papel de Petrobras já estava bastante depreciado, então tudo de ruim já estava no preço -diz .

Com um empurrão da Petrobras, o Ibovespa, principal índice da Bolsa, fechou em alta de 2,12%, aos 58.950 pontos. Foi o melhor resultado entre as 94 bolsas acompanhadas pela agência Bloomberg no mundo. O dólar comercial recuou 0,29%, a R$ 2,022.