Título: Governo manterá carro-pipa em área de seca
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 09/08/2012, O País, p. 9

Ministra diz que interrupção do programa por denúncias de uso eleitoral prejudicaria população pobre

BRASÍLIA Ao apresentar ontem a avaliação do primeiro ano do programa Brasil sem Miséria, a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, defendeu a distribuição de água por carros-pipa nas regiões atingidas pela seca, mesmo durante o processo eleitoral, quando, pela tradição, é comum o uso e exploração eleitoral do serviço. A medida está entre as ações emergenciais do programa para enfrentar a estiagem - uma das maiores dos últimos 50 anos e que prejudicou um dos projetos do Brasil sem Miséria, a distribuição de sementes para pequenos agricultores.

A ministra reconheceu que o uso de carros-pipa é passível de desvios, mas disse que o governo manterá o serviço para não deixar a população passando sede, e que conta com a fiscalização do Exército.

Segundo a ministra, são R$ 2,7 bilhões para atender a população e amenizar os efeitos da seca. Até agora, foram contratados 3.360 carros-pipa, para atender 640 municípios.

- Estamos, sim, entrando com caminhão-pipa. Sempre vão acontecer desvios e problemas, até porque estamos atuando lá na ponta, mas o governo federal acha que não é possível a gente, porque é período eleitoral, deixar a população passando sede, deixar as crianças, as pessoas sem água nem para alimentação - disse a ministra. - Os carros-pipa estão sendo fiscalizados. Quem está coordenando essa ação é o Exército, para tentar evitar desvios. E nos interessa ter acesso a qualquer tipo de denúncia. Graças às cisternas, a gente não está enchendo baldes.

Tereza Campello participou do debate "Diálogos Governo e Sociedade Civil: Brasil sem Miséria", organizado pela Secretaria Geral da Presidência, com a participação de cerca de 200 representantes da sociedade civil, além dos ministros Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) e Garibaldi Alves Filho (Previdência).

Ao fazer o balanço do Brasil sem Miséria, a ministra Tereza Campello disse que o programa atingiu os objetivos previstos para este ano, mas precisa de ajustes para cumprir a "meta ousada" de tirar 16,2 milhões de pessoas da extrema pobreza. Até junho, o programa incluiu mais 687 mil famílias extremamente pobres no Bolsa Família, superando a meta de 640 mil famílias em 2012, graças à "busca ativa" - estratégia pela qual o governo vai atrás das pessoas em extrema miséria, em vez de esperar que elas procurem ajuda pública:

- Estamos no rumo certo de colocar uma meta tão ousada de superar a extrema pobreza num país continental como Brasil, mas certamente temos de continuar avançando, temos o que melhorar, temos muito o que fazer.

A ministra disse que, de cada quatro brasileiros, um é atendido pelo Bolsa Família, mas o custo do programa representa 0,40% do PIB. Segundo ela, o orçamento do programa cresceu 40% entre 2010 e 2012, passando de R$ 14,37 bilhões para R$ 20 bilhões, e ressalta que isso representa investimento:

- Cada um real que a gente gasta no Bolsa Família, volta R$ 1,44 para a economia. Acaba sendo um investimento, porque você gasta no Bolsa Família, e essa família gasta em alimentação, em material escolar, em remédio. Esse R$ 1 volta e se multiplica, porque gera emprego e gera dinâmica, principalmente nas pequenas cidades do Brasil. Mais que um gasto, é um grande investimento que estamos fazendo não só para tirar a população da pobreza, mas para o país continuar crescendo - disse.

Tereza Campello destacou o foco do Brasil sem Miséria nas crianças com até seis anos de idade, abrangidas pelo Brasil Carinhoso, cuja meta é garantir renda mínima per capita de R$ 70 para as famílias que têm pelo menos um membro nessa faixa etária. Esse benefício passou a ser pago em junho deste ano e atinge 2,7 milhões de crianças. Com a implantação do Brasil Carinhoso, o valor médio do benefício pago pelo Bolsa Família passou de R$ 97 em 2010 para R$ 134 neste ano.

A ministra ainda afirmou que a meta do governo não é só propiciar melhoria de renda da população extremamente pobre, mas que ela saia da miséria em todos os sentidos:

- Quem é extremamente pobre não tem acesso a um conjunto de bens e serviços do Estado - disse, ressaltando que o desafio é cumprir três grandes eixos: garantia de renda, inclusão produtiva e acesso a serviços.