Título: Defesa de João Paulo Cunha diz que saque de R$ 50 mil não foi ilegal
Autor: Herdy, Thiago; Souza, André de
Fonte: O Globo, 09/08/2012, O País, p. 3

"Ele mandaria a própria esposa se fosse ilegal?", pergunta advogado

BRASÍLIA A defesa do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) negou todas as acusações imputadas ao parlamentar pelo Ministério Público e argumentou que o saque de R$ 50 mil feito por Márcia Regina Cunha, esposa do deputado, não foi ilegal. Alberto Toron, advogado do deputado, afirmou que, se o ato fosse ilegal, João Paulo não mandaria a própria mulher à agência do Banco Rural, num shopping de Brasília. O advogado alegou que era dinheiro disponibilizado pelo PT.

- Ele (João Paulo) mandaria a própria esposa se o saque fosse ilegal? Na véspera, Marcos Valério (operador do mensalão) esteve na casa do João Paulo. E por que não levou o dinheiro, então? Se fosse dinheiro escuso, de corrupção, João Paulo não se valeria desse mecanismo. A mulher dele foi lá, apresentou identidade, foi filmada. Ele não favoreceu a SMP&B - disse Toron.

A agência de publicidade de Valério venceu uma licitação na Câmara quando João Paulo era o presidente. Para o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a licitação foi direcionada e favoreceu Valério.

- Não houve favorecimento algum a Valério - contestou o advogado.

Pelo saque de R$ 50 mil no Banco Rural, João Paulo foi denunciado também por lavagem de dinheiro, além de corrupção e peculato. Toron disse que o dinheiro já estaria lavado e que não existe crime

- A própria denúncia afirma que o dinheiro entregue aos destinatários era previamente lavado. Então, o sacador que tomava, não lavava. Já estava previamente lavado. Não há lavagem da lavagem na lei. Tudo foi feito às claras, à luz do dia - continuou Toron.

- João Paulo é uma figura lateral nesse processo. Não deveria ter sido denunciado.

João Paulo tentou dar um ar de normalidade à sua agenda de ontem. Único réu do mensalão que disputa a eleição deste ano - é candidato a prefeito de Osasco -, ele registrou presença no plenário da Câmara e participou, pela manhã, de sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Casa (CCJ). Segundo parlamentares que o avistaram na Câmara, João Paulo estava tranquilo e consciente das implicações políticas do julgamento. Ele próprio disse a amigos que estava bem e que acompanharia de casa a apresentação de sua defesa.

Apesar do julgamento em curso, disse a colegas que seu principal tema do momento é a eleição municipal. Sua expectativa é que uma eventual vitória nas eleições tenha o efeito de uma absolvição.

Toron não entrou no mérito de discutir a origem do dinheiro do saque de R$ 50 mil, se era proveniente de caixa dois ou de outra fonte.

- Não toquei nesse assunto porque para mim é irrelevante. Não me interessa se houve caracterização de corrupção ou de caixa dois. Tentei mostrar que não houve ato de ofício e que o dinheiro foi disponibilizado pelo partido (PT) - disse Alberto Toron, em entrevista.

O advogado tentou demonstrar que o dinheiro repassado ao parlamentar não ocorreu em troca de qualquer favor para a SMP&B. Uma das acusações contra João Paulo é a contratação da empresa do jornalista Luís Costa Pinto, a Ideias, Fatos e Textos. O Ministério Público argumenta que o jornalista, contratado pela Câmara, prestava serviços exclusivos ao petista, então presidente da Câmara. Toron disse que essa acusação não está provada nos autos e, com base em depoimentos, assegura que Costa Pinto trabalhava para a Câmara. Ele citou depoimentos nesse sentido dos deputados Inocêncio Oliveira (PR-PE), do hoje senador Ciro Nogueira (PP-PI) e do então deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA).

- O jornalista trabalhou na Câmara para a Câmara. Os serviços foram efetivamente prestados pela empresa - disse.