Título: Se negar energia de Itaipu, Paraguai rompe tratado
Autor: Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 10/08/2012, Economia, p. 34

Mônica Tavares, Isabel braga e Janaína Figueiredo

Bom senso. Alteração de regras de fornecimento em Itaipu traria prejuízos para os dois países

Divulgação

BRASÍLIA E BUENOS AIRES O Itamaraty informou ontem não ter recebido qualquer comunicado do Paraguai sobre a suposta intenção de alterar as atuais regras de fornecimento de energia da usina hidrelétrica binacional de Itaipu. Destacou que o Brasil tem interesse em continuar a comprar a energia e lembrou que há um acordo bilateral que assegura ao país exclusividade na aquisição do insumo até 2023.

Na última quarta-feira, declarações do presidente Federico Franco de que não estaria disposto a continuar "cedendo" a energia excedente da hidrelétrica para Brasil e Argentina foram publicadas no site oficial do governo.

presidente da usina contemporiza

O presidente de Itaipu, Jorge Samek, minimizou o episódio, dizendo que houve uma grande "confusão". Samek contou que se reuniu durante toda a manhã de ontem com a nova diretoria paraguaia da usina e com seu presidente, Franklin Boccia, engenheiro do setor formado no Brasil.

- Foi um mal-entendido. O presidente do Paraguai quer a industrialização do país, a mesma coisa que o Brasil quer: o desenvolvimento de todos os países da região - disse.

Neste ano, segundo Samek, o Brasil pagará cerca de US$ 3,6 bilhões, ou 90% da energia produzida pela hidrelétrica, e o Paraguai vai desembolsar US$ 300 milhões pelos outros 10%. Esses recursos serão usados para pagar parcela da dívida contratada pela Eletrobras para a construção de Itaipu, além de juros, royalties e modernização dos equipamentos. Metade dessa dívida é do Brasil; a outra metade, do Paraguai.

- Queremos é produzir energia, e nenhuma diretoria deixou que a política interferisse no funcionamento de Itaipu - disse Samek.

Atualmente seria inviável para o Paraguai absorver a energia produzida por Itaipu que é vendida para o Brasil, disse Ricardo Canese, ex-coordenador da Comissão de Entes Binacionais Hidrelétricos do governo Lugo.

- O Paraguai não tem redes de transmissão para receber essa energia nem industrias para utilizá-la. Franco é mentiroso ou ignorante. O que ele propõe é impossível de ser aplicado e seria como jogar uma bomba no Paraguai - afirmou.

As declarações do presidente do Paraguai repercutiram no Congresso. O líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), disse acreditar que o Paraguai blefou ao ameaçar romper o acordo:

- Acho que não vai acontecer, creio que o bom senso vai prevalecer. É mais um blefe. O Paraguai vai abrir mão do que recebe do Brasil? Do ponto de vista econômico, não é viável. Nós renegociamos recentemente o valor, ele foi aumentado. O Paraguai não usa essa energia. Se deixar de fornecer para o Brasil, vai mandar para onde?

Durante o governo do ex-presidente Fernando Lugo, foi fechado um acordo com o Brasil e o preço da energia excedente de Itaipu foi praticamente triplicado, passando de US$ 120 milhões para US$ 360 milhões ao ano.

O Brasil também financia a construção de uma importante linha de transmissão para os paraguaios, com custo total de US$ 555 milhões.

Itaipu é responsável por 16,9% da energia consumida no Brasil e abastece 72,91% do consumo paraguaio.