Título: Adesão de setores estratégicos fortalece o movimento grevista
Autor: Carneiro, Lucianne
Fonte: O Globo, 10/08/2012, Economia, p. 28

Serviços parados

A greve unificada tem garantido a força da paralisação dos servidores federais, graças à participação de categorias que são consideradas estratégicas para a economia, na avaliação de especialistas. Esse contexto levou a um recrudescimento das negociações e acabou prolongando o período de paralisação.

- Essa greve tem sido mais forte e mais abrangente que outras porque o movimento é unificado. Temos (a participação de) setores estratégicos para a economia - afirma o cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) João Paulo Peixoto, referindo-se a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Receita Federal e Anvisa.

Para Peixoto, o governo está numa "posição clássica de negociação" nesta greve, mas a situação é mais delicada porque o momento político é tenso, com a CPI do Cachoeira e o julgamento do mensalão.

- Se Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Receita Federal pararem, param o Brasil, porque interferem no direito de ir e vir e no livre comércio. São situações muito graves que precisam ser resolvidas logo - diz o professor da UnB.

À medida que a greve se prolonga, aumentam os impactos da paralisação, tanto na economia quanto na administração pública.

A técnica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Maria Andréia Parente, do Grupo de Análises e Projeções (GAP), diz que não é possível medir o custo da greve para a economia, mas pode-se vislumbrar alguns efeitos, como alguma elevação de preço por causa da oferta menor de produtos em setores cujas cargas tenham ficado paradas na fiscalização da importação da Anvisa. Já o fechamento de estradas pode acabar pressionando o custo de frete, porque os caminhões demoram mais tempo para entregar uma carga, e esse custo maior pode ser repassado para o consumidor final. Outro prejuízo é uma menor arrecadação do governo federal por causa da paralisação da Receita.

- Além dos custos monetários, há os custos sociais, como o transtorno no trânsito - afirma Maria Andréia.

O atraso na liberação de insumos importados - cada vez mais usados pela indústria para aliviar a redução de sua competitividade - também pode comprometer os números de produção industrial.

- Essa retenção ou atraso (de insumos importados) pode sem dúvida afetar a atividade industrial, num período em que a produção industrial está estagnada - diz o pesquisador do Ipea Leonardo Carvalho.

Além do impacto na economia, a greve dos servidores federais traz prejuízo relevante para a imagem já desgastada da administração pública, destaca o cientista político João Paulo Peixoto:

- Existe excessiva burocracia e centralização no setor público, o que faz com que sua imagem não seja boa. As greves só vêm a piorar essa imagem.