Título: Para não repetir a frustração de Londres
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Fonte: O Globo, 14/08/2012, Opinião, p. 16

Analisada apenas pela quantidade de medalhas que os nossos atletas trouxeram de Londres (17), a performance brasileira nas Olimpíadas deste ano pode ser interpretada como um avanço em relação a Pequim (15 pódios). Mas a avaliação não se sustenta quando são considerados outros elementos determinantes.

A fatura olímpica foi alta, e os resultados não acompanharam o crescimento das verbas oficiais. O total de recursos públicos do ciclo de Londres foi de R$ 1,76 bilhão, quase o triplo desembolsado pela União para os Jogos de Pequim. Isso representa um custo em torno de R$ 117 milhões por medalha este ano, contra R$ 53 milhões em 2008 e R$ 31,1 milhões em 2004 (Atenas), quando o Brasil teve sua melhor campanha em Olimpíadas (cinco ouros).

São números que levam a preocupantes constatações. A mais óbvia é que não há relação direta entre orçamento e quantidade de medalhas. Sem dinheiro, nada se faz. Com muito dinheiro, nem sempre dá certo. Por comparação, a Grã-Bretanha, que teve participação pífia em Atenas, investiu no projeto de seu time olímpico para Londres o equivalente a R$ 834 milhões, bem menos que o Brasil - e, encerradas as competições, ficou em terceiro lugar no quadro de medalhas (65 ao todo, 17 a mais que em 2008). Aqui reside um renitente vício do Estado brasileiro: o mau gerenciamento de verbas públicas, cuja aplicação geralmente é desacompanhada de um mínimo de supervisão eficiente.

É preocupante o cenário esportivo que o desempenho do Brasil em Londres projeta para 2016, no Rio. Em primeiro lugar, porque algumas modalidades vitoriosas - como o vôlei masculino e a natação - entrarão num período de renovação, provocada não só pela performance das equipes este ano, até certo ponto frustrante, mas também em razão de se estarem fechando ciclos de gerações de grandes atletas, e a necessária descoberta de novos valores é uma incógnita. Não se pode ser otimista e apostar em novos frutos a serem colhidos daqui a quatro anos quando se constata que medalhas inéditas, em 2012, surgiram apenas na ginástica masculina e no pentatlo. Algo, por óbvio, precisa ser feito.

A contagem regressiva para 2016 agora começou de fato, e isso vale tanto para o plano esportivo como para o outro aspecto dos Jogos - os projetos de infraestrutura, com destaque para os de mobilidade urbana, que ficarão como legado da competição. E, mais importante, não se deve ter como horizonte apenas as Olimpíadas do Rio, nas quais o fator torcida pode ter um grande peso a favor. O objetivo de colocar o país entre as dez maiores potências olímpicas não passa apenas pela quantidade de medalhas conquistadas nas arenas e pistas cariocas, mas, principalmente, pela adoção de um programa efetivo e duradouro de desenvolvimento do esporte.