Título: Bispo Rodrigues: esquema pagou campanha de Lula no Rio
Autor: Miranda, Gustavo
Fonte: O Globo, 14/08/2012, O País, p. 5

um julgamento para a história

BRASÍLIA. Os R$ 150 mil recebidos pelo ex-deputado Carlos Alberto Rodrigues, o Bispo Rodrigues, serviram para pagar dívidas de campanha do ex-presidente Lula no Rio de Janeiro e não à compra de apoio político, defendeu ontem o seu advogado, Bruno Mascarenhas, diante dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O defensor seguiu a mesma estratégia dos advogados de Delúbio Soares e de parlamentares que argumentam que o dinheiro do esquema financeiro montado por Marcos Valério serviu para pagar débitos do pleito de 2002.

- O acusado jamais negou o recebimento desse dinheiro, que veio do Partido dos Trabalhadores com destinação diferente da imaginada pela acusação. O valor foi usado exclusivamente para pagamento de dívidas de campanha - argumentou o advogado, que classificou a denúncia por corrupção passiva e lavagem de dinheiro como "inverossímil" e "ilógica".

credores eram humildes, diz defesa

Mascarenhas acusou a Procuradoria Geral da República de sustentar a acusação apenas no depoimento de Célio Siqueira, que buscou dinheiro no banco e o entregou na residência de Rodrigues. No texto entregue aos ministros para reforçar as acusações, o procurador Roberto Gurgel citou quatro documentos: a cópia do recibo de pagamento dos R$ 150 mil no Banco Rural; dois depoimentos de Rodrigues; e o testemunho de Siqueira.

Para justificar a transferência de recursos em dinheiro ao seu cliente, e não por meio de transferência bancária ou depósito, o advogado pôs a culpa nos credores de campanha.

- São pessoas humildes, que não têm conta em banco - afirmou.

Lembrou ainda que o PL (atual PR) ocupava à época a vice-presidência da República, portanto, não precisaria ser comprado para apoiar o governo.

Segundo o defensor, o dinheiro serviu para pagar pela confecção de santinhos, impressão de jornais e aluguel de caminhão de som. Em 2005, Rodrigues renunciou ao mandato parlamentar para evitar a cassação do mandato.

O advogado Inocêncio Mártires Coelho negou ontem que José Borba (PMDB), ex-parlamentar réu no processo do mensalão, tenha recebido qualquer centavo do esquema. Nem mesmo a título de caixa dois.

borba chama acusação de anêmica

A denúncia da Procuradoria Geral aponta que Borba foi beneficiado com R$ 200 mil, que teriam sido sacados na agência do Banco Rural, em Brasília. Segundo o Ministério Público, Borba retirou o dinheiro pessoalmente, mas recusou-se a assinar o recibo.

Hoje prefeito de Jandaia do Sul, no Paraná, Borba renunciou ao mandato de deputado em 2005 para não ser cassado por seus pares.

- Me perdoem a expressão, mas o texto do procurador está cheio de furos e esparadrapos. O que chama de prova robusta não passa de frase de efeito. Não são robustas, são anêmicas. É muita fragilidade - disse Inocêncio.