Título: A melhor defesa é o ataque?
Autor: Coelho, André
Fonte: O Globo, 14/08/2012, O País, p. 3

Em sua sustentação de ontem, o advogado de Roberto Jefferson inovou. Em vez de enfatizar a precariedade da denúncia, questionou a sua seletividade. Foi tanto defesa quanto ataque: se havia mesmo um esquema de compra de votos para favorecer o governo, por que o presidente Lula não foi incluído entre os réus?

A denúncia fala em um esquema para favorecer interesses "do governo", mas, segundo o advogado Luiz Francisco Barbosa, deveria dizer "do presidente". Esse movimento de colocar Lula em discussão já era mais do que esperado. Seu efeito jurídico, porém, parece muito limitado. Nesta altura do processo, é tecnicamente impossível fazer de Lula um réu. O que a defesa de Jefferson tinha em mente?

Na verdade, o alvo era outro: a Procuradoria Geral da República. Enfatizar a ausência de Lula é indagar acerca dos motivos que a explicam. Foi decisão do procurador anterior, Antonio Fernando de Souza, que não incluiu o nome do ex-presidente na denúncia apresentada ao STF em 2006. Mas o ataque não poupou o atual ocupante do cargo, Roberto Gurgel. O advogado de Jefferson fez questão de enfatizar que há, no Senado Federal, várias representações contra Gurgel, por alegadas omissões em investigar Carlinhos Cachoeira.

O avanço contra a pessoa de Gurgel sugere que Jefferson não está preocupado com o passado, mas, sim, com o presente. Lula em si não importa. Ele não pode mais ser réu, mas sua ausência está sendo transformada em argumento para minar a confiança dos ministros na acusação - e no acusador.