Título: Baixa renda perde espaço no programa do governo Dilma
Autor: Fariello, Danilo; Gama, Junia
Fonte: O Globo, 12/08/2012, Economia, p. 39

Menos de um terço do Minha Casa 2 se destina a quem ganha até R$ 1.600

Sem casa. Burocracia desanimou Lilian: "No início, não estava muito estabilizado. Vou tentar novamente"

BRASÍLIA Se o ritmo do Minha Casa, Minha Vida 2 é mais rápido do que o de seu antecessor, o programa não tem conseguido incluir a mesma quantidade de pobres que a primeira versão. Enquanto no programa de Luiz Inácio Lula da Silva os mais carentes perfaziam quase a metade do total de um milhão de casas prometidas, até agora, das mais de 800 mil contratações do governo Dilma Rousseff, menos de um terço é destinada à faixa 1, ou seja, daqueles com renda até R$ 1,6 mil, de acordo com a regra atual.

Lilian Ferreira da Cruz, a funcionária de uma loja de bijuterias em Brasília, já era casada e empregada há três anos, quando tentou conseguir uma moradia pelo programa Minha Casa, Minha Vida no município de Valparaíso de Goiás. Mas ela acabou desistindo diante das dificuldades e burocracias do processo.

- Como fui no início, o programa não estava muito estabilizado, e desisti. Mas hoje vou tentar novamente, porque acho que o programa está mais avançado - disse Lilian.

Agora, ela vai ter de seguir o rumo de tantas outras pessoas que não conseguiram casas pela primeira fase do Minha Casa, Minha Vida. Lilian buscará um imóvel em Cidade Ocidental (GO), mais distante do Centro de Brasília, onde trabalha, do que Valparaíso. E a nova casa também é mais cara do que a que pretendia antes, porque fica fora da faixa 1 do programa. Na nova casa, Lilian prevê pagar cerca de R$ 700 pela prestação, sendo que hoje ela paga R$ 500 de aluguel.

Essa é uma tendência que acompanha o avanço da renda do brasileiro e o interesse crescente das construtoras por empreendimentos de maior valor em detrimento daqueles da faixa 1, na qual estão os mais pobres. Com essa mudança, também caiu a participação percentual no programa dos recursos do Orçamento Geral da União (OGU), que pagam 100% das casas para a renda mais baixa. Na primeira fase, eles representavam 75% do subsídio total ao Minha Casa, Minha Vida. Agora, o Orçamento perdeu espaço relativo para o FGTS, que financia as faixas 2 e 3, caindo a 69% do total subsídio ao programa.

Falta uma meta para entrega

Do total de casas do Minha Casa, Minha Vida 2 que continuam sendo contratadas, um terço já está pronto. Se considerados ambos os programas, uma em cada três casas entregues com o selo já foi contratada no governo Dilma, com menos de dois anos de vigência.

- No caso do Minha Casa, Minha Vida 2, muitos dos problemas da primeira fase não existem mais, porque todos já aprenderam com a primeira experiência, e agora o conjunto de entidades envolvidas no programa está mais preparado - explica José Carlos Martins, vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).

Com as 823 mil casas já contratadas, o governo Dilma já atingiu 34% da meta de contratações previstas até 2014, de 2,4 milhão de moradias, segundo o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro. Esse objetivo foi ampliado de dois milhões para 2,4 milhões em abril deste ano. Com relação à entrega das residências, no entanto, mas o governo continua sem metas. ( Danilo Fariello e Junia Gama )