Título: Bancos mudam estratégia para era dos juros baixos no país
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 12/08/2012, Economia, p. 38

Entidades buscam ampliar base de clientes e estudam investir no exterior para manter ganhos

BRASÍLIA O cenário de juros baixos deve pôr um fim à era dos lucros de mais de 20% que os bancos registraram até recentemente. Pressionadas pelo governo a emprestar mais - e a um custo menor -, as instituições financeiras têm pela frente desafios para maximizar seus ganhos, como indicam os balanços recém-divulgados. As opções variam da oferta de serviços para aumentar a base de clientes, com produtos para as classes C e D (consignado, seguro e financiamento habitacional) até aquisições.

- A tendência é de redução nas margens (de lucro) com operações de crédito. Como não dá para aumentar as tarifas, num ambiente mais competitivo, os bancos terão que encarar desafios e atuar em novas frente para manter os ganhos - diz o vice-presidente de Atacado e Área Internacional do Banco do Brasil (BB), Rogério Caffarelli.

Por isso, além de investir na própria base de clientes, o BB reforçou os planos de internacionalização, com foco na América Latina e cogita comprar bancos em Colômbia, Chile e Peru, nos EUA e na África. A atuação na China está sendo remodelada e o escritório vai virar uma agência nos próximos meses. No Japão, devido à redução de brasileiros no país, as cinco agências serão concentradas em três.

bb estuda aquisições

Segundo Caffarelli, dificilmente os bancos conseguirão lucros acima de 25%. Ele crê que o novo patamar de ganho ficará entre 15% e 20%. Mas, mesmo para se chegar a este nível serão necessários esforço e criatividade, pois a estrutura de custos do setor é maior comparada ao exterior.

Além de novas aquisições, o BB quer entrar forte no mercado de capitais, com foco nas grandes empresas que têm filiais fora do país, coordenando operações de emissão de debêntures, abertura de capital e oferecendo empréstimo-ponte até a concretização do negócio. Por isso, a área de atacado e mercado de capitais foram agrupadas, explicou Caffarelli:

- O BB pretende se tornar o principal banco de mercado de capitais do país.

O vice-presidente de Finanças da Caixa Econômica Federal, Márcio Percival, disse que não estão no horizonte novas aquisições, além do PanAmericano. Mas diz que o banco fará em breve parcerias com empresas nos ramos imobiliário, de cartão e tecnologia:

- A concorrência no setor ficará cada vez mais forte e os bancos já estão se reposicionando estrategicamente.

A Caixa continuará expandindo o crédito a pessoas físicas e empresas, sobretudo as de pequeno porte. O banco está revendo a análise de risco, ainda com resquícios dos períodos de instabilidade, e prepara um projeto de reeducação financeira para clientes.

Segundo um executivo ligado ao Bradesco, o banco se voltará aos clientes das classes C e D, que estão entrando no sistema financeiro. Após perder o contrato com o Banco Postal (dos Correios), a instituição abriu mil agências em diversos pontos do país. Embora o Bradesco tenha escritórios no exterior, o alvo da instituição continuará sendo o Brasil, diz a fonte. O banco também está disposto a atuar mais no segmento imobiliário, que tradicionalmente tem um índice menor de inadimplência.

O vice-presidente de Estratégias do Santander, Juan Hoyos, disse que as mudanças no sistema financeiro brasileiro são positivas e representam oportunidades para a instituição, que pretende ampliar o número de agências e de terminais eletrônicos. Segundo Hoyos, além de um novo mix de produtos, a instituição quer ampliar o crédito imobiliário, que ficará cada vez mais acessível, num ambiente de juros baixos.

O professor da USP Alberto Matias diz que os bancos nacionais precisam aprender a ter ganhos de escala para enfrentar os novos desafios. Ele destacou que a participação do crédito e das operações do mercado de capitais é pequena em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). E a internacionalização de bancos brasileiros ainda é tímida.