Título: Secretário comandou a prisão de 20 militantes
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 12/08/2012, O País, p. 16

Deputado que pedia punição para subversivos também tinha dossiê

recife Documentos do Dops de Pernambuco apontam que, só em 1965, o então secretário de Segurança Pública Álvaro Costa Lima comandou a prisão de 20 ativistas, "encaminhou 27 inquéritos contra elementos subversivos" e ouviu 226 "pessoas envolvidas em subversão". Durante a edição do ato institucional número dois (AI-2), chegou a deslocar "dez carros FM e 15 jipes" para as ruas a fim de evitar "levantamento de ativistas vermelhos mais perigosos, fichados na revolução de 31 de março". Registros fazem referências ao esfacelamento do comitê regional do Partido Comunista do Brasil e mostram que a polícia civil deverá "obter novos êxitos".

Com passagem na polícia do chamado Estado Novo e autonomeado um caçador de comunista depois de 1964, o ex vereador e deputado Wandekolk Wanderley tem um dossiê volumoso no Dops, por dois motivos. Se por um lado ele escrevia requerimentos ao Dops pedindo providências "contra a existência de movimentos com finalidade subversivas" e defendendo "a preservação do regime democrático a qualquer custo", por outro teve seus passos monitorados ao envolver-se em investigações particulares para provar que o seu filho, José Carlos Wanderley, não tinha envolvimento na morte de um médico (sem motivação política). Conforme documentos do Dops, o ex-deputado - já morto - coagiu testemunhas e fez prisões arbitrárias.

Homônimo era monitorado

Outra informação curiosa refere-se a um cidadão chamado José Silvestre Costa, homônimo do então delegado de Segurança Social José Silvestre, acusado de tortura em diversos documentos da época. Segundo o ex preso político Francisco de Assis Barreto Rocha Filho, o policial se gabava de "não ter colocado um dedo em nenhum subversivo", mas comandava as sessões de tortura. Rocha Filho diz ter sido sua vítima durante cinco dias de interrogatório. Silvestre era um homem temido.

De acordo com os documentos recolhidos ao arquivo, o homônimo do delegado "dizendo-se agente da Polícia Federal, coronel do Exército e agente do SNI (Serviço Nacional de Informações)" invadiu um escritório na rua Augusta, em São Paulo, e apreendeu "posteres de propaganda comunista", dizendo-se "possuidor de autorização de um general importante". Seu caso consta em "protocolo sigiloso", e o nome utilizado indevidamente foi o do "General Muricy", provavelmente Antônio Carlos Muricy, um dos líderes militares do golpe de 1964