Título: Dops: 223 colaboradores atuavam como agentes
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 12/08/2012, O País, p. 16

Acervo de delegacia em PE mostra que militares também eram monitorados; prontuários escondiam abusos

relatos dos porões

Recife Extinto em 1990 e com seu acervo transferido para o Arquivo Público do Estado - onde está sendo digitalizado - os quase 170 mil documentos da Delegacia de Ordem Política e Social (Dops) em Recife começam a revelar os bastidores da repressão e mostram que não só os inimigos do regime eram monitorados, mas também os próprios agentes.

A prática, muito usual no Estado Novo, prolongou-se pelo menos até duas décadas depois de 1964. Em alguns prontuários, é possível identificar a intenção de proteger militares ou civis que participavam de operações de repressão; observa-se ainda que alguns deles cometiam abusos de autoridade em investigações comuns e eram acobertados pelo sistema. E que se envolveram em assassinatos, investigações paralelas e chegaram a ter seus nomes usados por terceiros em missões não autorizadas pela então Secretaria de Segurança Pública, que agia entrosada com órgãos federais.

O acervo revela, também, que além de funcionários da Secretaria de Segurança, a delegacia chegou a contar com uma lista de 223 colaboradores que, por conta dos serviços prestados, eram "merecedores de renovação de credenciais" no início dos anos 70. Os documentos mostram que pessoas atuavam em caráter paralelo e eram reunidas em grupos específicos: Investigadores Adidos da Secretaria ou Sociedade Investigativa Secreta.

Os papéis praticamente não fazem referência ao Comando de Caça aos Comunistas, o CCC, que atuou com muita intensidade no período após 64.

É provável que o número de colaboradores seja maior do que os 223 apontados num dos últimos relatórios no período da ditadura. Um dos mais conhecidos era Rogério Matos, não incluído na lista, embora ele possuísse, em 1969, uma carteira de "agente secreto" do Dops, segundo revelação feita pelo ex-delegado Jorge de Tasso à Comissão Estadual da Memória e da Verdade. Rogério é acusado de matar, em 1969, o padre Antônio Henrique Pereira Neto, assessor do bispo Dom Helder Câmara.