Título: Esquema de evasão de divisas é citado pela PF
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 12/08/2012, O País, p. 9

Bicheiro teria comprado por US$ 600 mil bilhete que valeria US$ 1 milhão

BRASÍLIA O relatório da Polícia Federal reforça a suspeita de que o bicheiro Carlinhos Cachoeira desenvolveu uma estratégia de evasão de divisas ao comprar um bilhete premiado na loteria federal dos Estados Unidos: "O entendimento da análise policial é o de que, caso se confirme a realização da transação de compra do bilhete premiado de loteria americana, há indícios de crime financeiro (evasão de divisas), uma vez que seriam recebidos US$ 1 milhão no exterior e, em contrapartida, depositados em contas nacionais US$ 600 mil convertidos em moeda nacional", conclui o relatório.

Apesar de o bilhete valer US$ 1 milhão, a transação que teria sido efetuada entre as partes soma US$ 600 mil, pagos de forma parcelada. O contrato está assinado por Cachoeira; Giovani Pereira da Silva, contador do bicheiro e que está foragido; e Adriano Aprígio, ex-cunhado dele e apontado pela PF como seu testa de ferro.

No contrato, as partes concordariam que Cachoeira pagasse de diversas formas: "US$ 14.285,72 já pagos à vendedora", o que sugere que a transação pode ter sido efetivada; outros US$ 85.714,28 "também já pagos à vendedora no ato da assinatura deste", por meio de um cheque nominal a Marco Dihoni Fernandes Souza; mais US$ 342.864 que seriam pagos em 12 parcelas fixas, em depósitos em nome de Amarilia Soares Silva, numa agência do Banco Sicoob em Minas Gerais; além de outras transferências bancárias. Cachoeira também teria dado como garantia de pagamento um terreno no condomínio Alphaville Flamboyant, em Goiânia.

indício de compra de cassino

A parcela que teria como destinatário Marco Dihoni Fernandes de Souza, de US$ 85.714,28, chamou a atenção da PF porque ele consta como um dos principais destinatários de recursos saídos das contas de Geovani Pereira da Silva, considerado o operador financeiro de Cachoeira

Nos documentos em posse da CPI e na interceptação telefônica feita pela PF, há indícios de que o bicheiro tinha um esquema internacional, sobretudo nos EUA. Cachoeira costumava viajar frequentemente para Miami e Los Angeles e teria negociado a compra de um navio-cassino na Flórida.

O uso de bilhetes premiados para lavar dinheiro não é novidade. Em 1993, ao vir à tona o esquema dos "Anões do Orçamento", o então deputado João Alves (BA) disse que Deus o ajudava porque ele ganhara mais de 200 vezes na loteria. Por isso, tinha muito dinheiro. Na verdade, ele comprava bilhetes premiados. (Chico de Gois)