Título: Ex-premier: Assad só controla 30% da Síria
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Fonte: O Globo, 15/08/2012, O Mundo, p. 31

Declarações de desertor e indício de que Irã treina paramilitares são sinais de enfraquecimento do regime

ALEPPO, SÍRIA E AMÃ - As forças de Bashar al-Assad controlam hoje 30% da Síria, no máximo, calcula o ex-premier do país Riyad Hijab, reforçando as indicações de que o regime foi gravemente ferido pelos 17 meses de revolta. O baixo moral das tropas leais ao governo e as dificuldades de combater os rebeldes teriam, inclusive, levado o Irã a investir numa milícia para ajudar Assad, acusou um militar dos EUA.

Antes de Hijab, outros civis e militares do topo do regime já o haviam abandonado, como o embaixador no Iraque, Nawaf al-Fares, e os generais Manaf Tlass e Mohammad Fares. O ex-premier, porém, ocupava o cargo mais alto entre os desertores até hoje. Todos são sunitas, assim como a maioria dos rebeldes. Segundo Hijab, há muitos oficiais prontos a dar as costas a Assad, um alauita — seita xiita que comanda o país, apesar de ser minoritária.

— Pelo cargo que ocupei, posso dizer que o regime está ruindo em termos morais, materiais e econômicos. Militarmente está se fragmentando e não ocupa mais do que 30% do território — disse Hijab na primeira aparição pública ontem, em Amã, chamando Assad de "inimigo de Deus" e pedindo união à oposição.

Rebeldes em zona petrolífera

O ex-premier fora nomeado para o cargo dois meses antes de fugir para a Jordânia — que vem apoiando os rebeldes. Ontem, os EUA suspenderam as sanções contra o político. O regime sírio diz que o demitiu.

Hijab não detalhou como chegou às conclusões que apresentou, mas o discurso de que Assad está mais fraco é comum a outros desertores. Sabe-se que nas últimas semanas o regime conseguiu reconquistar territórios da capital, Damasco, e que em Aleppo, centro econômico do país, ocorreu ontem um dos mais violentos ataques ao reduto rebelde de Salah al-Din.

Por outro lado, os rebeldes têm tomado controle de postos de fronteira no Norte e no Leste. Além disso, um diplomata ocidental diz que o governo não tem hoje como derrotar a oposição em Deir el-Ezzor, capital da região que concentra a produção de petróleo da Síria.

A pressão contra as forças de Assad levou o Irã a investir em criação e treinamento de um grupo dentro da Síria para combater os rebeldes, disse ontem o general do Exército americano Martin Dempsey.

Mais de 18 mil pessoas já morreram no conflito sírio, segundo os opositores — nos últimos dois dias houve 225 vítimas. Ao menos 157 mil fugiram do país, segundo a ONU. As organizações humanitárias têm tido dificuldade para aliviar os impactos da guerra civil — da obtenção de vistos para os trabalhadores até a negociação de cessar-fogo. Ontem, a chefe de assuntos humanitários da ONU, Valerie Amos, visitou novamente o país. Segundo sua porta-voz, ela foi expressar as "muito graves preocupações" com a situação.

O temor de que a crise síria cause a divisão do país levou Walid Jumblatt, um dos principais líderes políticos do Líbano, a defender o armamento dos rebeldes pela comunidade internacional para acelerar a queda de Assad.