Título: Governo tenta impedir que Senado vote investimento de 10% do PIB em educação
Autor:
Fonte: O Globo, 15/08/2012, O País, p. 6

Para ex-presidente FH, aumento de verba será desperdiçado

-BRASÍLIA E SÃO PAULO

O governo apresentou ontem um recurso para impedir que seja apreciado já pelo Senado o projeto que garante o investimento de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação nos próximos dez anos. A proposta está prevista no Plano Nacional de Educação (PNE) e foi aprovada em junho numa comissão da Câmara, em caráter terminativo. Se não houvesse recurso, já iria para o Senado. Mas o líder do governo da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), conseguiu o apoio de mais de 80 deputados e apresentou o recurso, que agora tem que ser aprovado pelo plenário, onde o governo tem maioria. Se aprovado o recurso, por maioria simples dos presentes, o projeto do PNE será apreciado em plenário, quando o governo pretende retirar o percentual fixo de investimento. Depois de muita polêmica, sob pressão de estudantes que lotaram a comissão, o governo já tinha concordado com a aprovação da meta de 8% do PIB para educação. Por fim, os governistas permitiram que o texto dos 10% fosse aprovado para não retardar a tramitação do PNE.

INVESTIMENTO ATUAL É DE 5%

De acordo com o que foi aprovado na Câmara, a meta é chegar a 7% do PIB até 2015 e a 10% até 2020. Hoje, os investimentos do governo em educação estão em 5% do PIB. — O governo nos apunhala nas costas. É lastimável esse recurso. Após o amplo acordo que levou à aprovação dos 10% vem a liderança do governo com o argumento vergonhoso do ministro Mantega, de que isso quebrará as finanças do país. Ainda temos muito o que investir para melhorar a qualidade da educação básica — criticou o deputado Paulo Rubem Santiago (PDT-PE). O PNE é um plano para a educação nos próximos dez anos. O projeto fixa as diretrizes básicas e estabelece 20 metas em todos os níveis, desde a educação infantil até o nível superior. Entre os objetivos estão, por exemplo, a universalização, até 2016, da educação infantil na pré-escola para crianças de 4 a 5 anos, e atender, no mínimo, 50% das crianças de zero a 3 anos em 10 anos. Em seminário ontem em São Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se posicionou contra o aumento alegando que o problema não é a falta, mas o desperdício de dinheiro público. — Vai ser um desperdício. Educação vem da chama do professor e do interesse do aluno. Temos de valorizar o professor. O problema não são recursos. Na Inglaterra, dei aulas em universidades sem muitos recursos, mas com grandes bibliotecas, seminários para os professores se aprimorarem.