Título: No Rio, capital avança; interior reduz ritmo das melhorias
Autor:
Fonte: O Globo, 15/08/2012, O País, p. 6

Após anos estagnado, estado tem o 2º maior crescimento do país

A educação pública no Estado do Rio e na capital registrou avanços no ranking do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), mas o mau desempenho das redes públicas dos municípios do interior do estado impediu que o avanço fosse ainda maior. O Rio é o único estado do país em que menos da metade dos municípios atingiu a meta do Ideb 2011 nos anos iniciais do ensino fundamental, na rede municipal: 47,3%.

Na rede estadual de ensino médio, o Rio ficou com 3,2 e bateu a meta de 3,1. Mas tem o 15º Ideb do país e o pior do Sudeste. Em 2009, o Ideb do estado só não foi pior que o do Piauí, empatando com Amapá, Rio Grande de Norte e Alagoas.

Depois de passar as últimas três edições do Ideb estagnado com 2,8, o estado conseguiu crescimento de 0,4, o segundo maior do país, atrás de Goiás, que subiu 0,5. No entanto, o resultado ainda está abaixo da média nacional, de 3,7. Entre os cinco primeiros estão Santa Catarina (4), São Paulo (3,9), Minas Gerais (3,7), Paraná (3,7) e Goiás (3,6).

— O Rio ficou estagnado por três edições seguidas e ainda está abaixo da média nacional. Houve crescimento, mas sendo um estado rico, com renda per capita maior que a nacional e royalties de petróleo, a gente podia esperar mais. Estados isolados e com renda menor cresceram mais — disse Priscila Cruz, diretora- executiva do Todos Pela Educação.

VIZINHOS COM RESULTADOS DISTINTOS

No estado, municípios vizinhos e ricos em royalties como Campos e Rio das Ostras tiveram resultados diferentes. Presidente da União dos Dirigentes Municipais de Educação do Rio (Undime), José Adilson Gonçalves Priori lembra que, além da questão do tamanho (muito grande), Campos enfrentou problemas administrativos com a cassação e o retorno da prefeita Rosinha Garotinho:

— Quanto maior o município, maior a complexidade. Além disso, os problemas políticos acabam interferindo na gestão administrativa, que precisa de uma ação continuada para dar certo.

A Educação também avançou no município do Rio: nos anos iniciais, o Ideb aumentou de 5,1, em 2009, para 5,4. Florianópolis tem a melhor nota (6), seguida por Curitiba, Palmas, Campo Grande e Belo Horizonte, todas com 5,8. Nos anos finais, o Rio teve o maior crescimento do país, e a nota subiu de 3,6 para 4,4. Há cinco capitais à frente: Palmas e Campo Grande (5), Curitiba (4,7), Florianópolis (4,6) e Belo Horizonte (4,5).

Para Wilson Risolia, secretário estadual de Educação do Rio, a posição superou as expectativas do governo. Risolia disse que está mais confiante para a meta de levar o Rio ao "top 5" em 2014:

— Superamos em muito nossa meta gerencial para este ano, que era ficar em 19º, e atingimos o crescimento projetado de 0,4. Hoje, temos mais segurança sobre nossa proposta e aonde podemos chegar. Antes, tínhamos o diagnóstico dos problemas e passamos a ver a realidade de perto. Agora, enxergo o problema dos alunos na turma que for e na série que for, quais competências que não desenvolveram. Assim, fica mais fácil. Doutora em Educação pela PUC-Rio, Andrea Ramal reconhece o avanço, mas diz que será preciso redobrar esforços:

— O salto me parece positivo. Está acontecendo nos últimos anos um esforço de gestão. Mas há ajustes a serem feitos. Faltam ser incrementadas a formação de professores e a valorização, além de melhorar a infraestrutura das escolas. O salto tem que ser ainda maior, e o esforço do Rio terá que ser enorme. O governo vai ter que contar com outros parceiros e estreitar a relação com os professores.

Se consideradas apenas as médias das notas obtidas na Prova Brasil (exame com questões de português e matemática), a situação do Rio melhora, passando para a 11ª colocação. O estado, junto com Santa Catarina, teve o maior crescimento do país, de 0,21. Segundo Risolia, isso foi possível graças ao estabelecimento de um currículo mínimo e do Saerjinho, avaliação bimestral para alunos da rede. Ele destaca programas de reforço escolar e formação continuada de professores.

TAXA DE APROVAÇÃO DERRUBA NOTA DO RIO

O que puxou a nota do Rio para baixo foi o Indicador de Rendimento, que leva em conta as taxas de aprovação. Apesar de subir de 0,68 para 0,73, o estado ficou na 22ª colocação. Mesmo admitindo que a nota é baixa, Risolia destacou a redução no nível de abandono, de 16,5% em 2009 para 14,4%, em 2011, atribuída ao programa Renda Melhor Jovem (benefício destinado a alunos vindos de famílias com renda per capita mensal de R$ 120) e à gestão integrada escolar (Gide).

A secretária municipal de Educação, Cláudia Costin, afirmou que os resultados não surpreenderam e foram motivo de comemoração porque significaram a volta por cima de um município que enfrentou sérios problemas em razão da aprovação automática implantada durante o governo Cesar Maia:

— Identificamos 28 mil analfabetos funcionais nas 4ª, 5ª e 6ª séries. As notas do Rio haviam caído entre 2005 e 2007, a gente sabia que tinha problema de aprendizagem dos alunos, mas o sistema de aprovação fazia com que os resultados parecessem melhores. Nós acabamos com a aprovação automática e realizamos provas para avaliar o desempenho dos alunos e suas necessidades. Em oito meses, conseguimos mudar o quadro. Com a implantação do currículo bimestral, provas de avaliação de desempenho e monitoramento das escolas, os índices de reprovação caíram e as médias de aprendizado tanto dos primeiros anos como dos últimos subiram. E o Rio está em terceiro lugar nos anos iniciais, e em quinto lugar nos anos finais.