Título: FH: O risco é de criarmos racismo no Brasil
Autor: Krakovics, Fernanda
Fonte: O Globo, 15/08/2012, O País, p. 7

Ex-presidente defende medidas compensatórias para alunos pobres

SÃO PAULO

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou ontem, em São Paulo, durante o Seminário Internacional em Busca da Excelência, promovido pela Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), a atual política de cotas raciais para alunos do ensino superior. O ex-presidente apoia "mecanismos compensatórios" para a população de baixa renda ter acesso à universidade. Aos empresários, FH defendeu ainda a criação de uma agência reguladora para a educação pública, sem inteferência política, além de um modelo de gestão empresarial no ensino público. — Sempre fui favorável a mecanismos compensatórios. A cota é mais complicada. Nós vamos valorizar o conceito de raça? O risco é de criarmos racismo no Brasil. É obvio que a população negra tem a pior situação. Fiz minha tese de doutorado sobre isso, sobre os negros no Rio Grande do Sul — disse. Fernando Henrique defende, por exemplo, o aumento do percentual de vagas destinadas aos alunos de baixa renda, sem distinção de raça. E salientou que foi pego de "surpresa" pela decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que, em maio deste ano, declarou a constitucionalidade do sistema de cotas raciais. CRÍTICAS À GESTÃO DO MEC Durante o seminário, Fernando Henrique também defendeu a parceria entre governos e empresas para ajustar a gestão das universidades. Segundo FH, os gestores deveriam ser administradores, não professores. Ele também acredita que os alunos devem permanecer por períodos mais longos dentro da escola, apesar de reconhecer a dificuldade de implementação do ensino em tempo integral. — Se você não tem apoio da família, sou a favor da permanência na escola por mais tempo, mas os professores terão de ser qualificados. Isso custa caro e é feito a longo prazo. A evasão dos alunos se dava por falta de recursos no passado. Agora, se dá por desinteresse — declarou o ex-presidente. Ao defender a criação de uma agência reguladora para o ensino público, o tucano aproveitou para criticar "disputas ideológicas" na atual gestão do MEC, comandado, até janeiro, pelo candidato do PT ao governo de São Paulo, Fernando Haddad. E ironizou a falta de embates dessa natureza durante seu governo: — Eu tive sorte que meu partido (PSDB) era fraco, não tinha poder para me chatear — afirmou.