Título: Advogado apela até a poema de Camões
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 15/08/2012, O País, p. 9

Outro defensor causa espanto ao adaptar música de Cazuza

Depois de menções à novela "Avenida Brasil", a clássicos de Chico Buarque ("Vai passar" e "Apesar de você"), a poesias de Gibran Khalil Gibran e intelectuais diversos (de Ruy Barbosa a Raymundo Faoro), os advogados dos réus do mensalão mantiveram acesa a chama criativa na segunda semana de julgamento do mensalão. O advogado João dos Santos Gomes começou a defesa do ex-deputado Paulo Rocha com um soneto do português Luiz de Camões: — "Sete anos de pastor Jacob servia/Labão, pai de Raquel, serrana bela/Mas não servia ao pai, servia a ela/E a ela só por prêmio pretendia" — declamou ele, regressando, em seguida: — Mas não represento Raquel, represento Paulo Rocha, que de meigo não tem nada. Homem de feição rude, que teve sonho ideal no Pará de criar um partido político que fosse diferente. Mais tarde, o advogado, ex-professor de literatura em cursinhos pré-vestibular nos anos 1980, explicou a escolha do poema. — Se eu contar, você não vai acreditar: estava conversando de manhã com Paulo, e ele me disse: "Sete anos depois, essa história vai chegar ao fim." Na hora, lembrei-me do soneto. Já o defensor de Anita Leocádia disse gostar de Chico Buarque, mas avaliou que essa história de mencionar o compositor "já deu o que tinha que dar". Por isso, guardou para o fim uma menção a Cazuza. — Senhor procurador-geral da República, tua piscina está cheia de ratos, as suas ideias não correspondem aos fatos. Presidente, o tempo não para — concluiu, mencionando o verso final da música "O tempo não para", sob o olhar incrédulo do ministro Ayres Britto.