Título: Para governo, concessão é parceria, e não privatização
Autor: Lima, Maria; Gama, Júnia
Fonte: O Globo, 16/08/2012, Economia, p. 27

PSDB elogia pacote e diz que governo Dilma aderiu a programa tucano

Maria Lima, Júnia Gama e Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA E SÃO PAULO Os maiores elogios ao pacote de concessões anunciado ontem pela presidente Dilma Rousseff vieram de tucanos. De olho numa fatia do bolo de investimentos, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, defendeu Dilma das críticas de que o programa é uma "privatização envergonhada". Já o líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE), criticou o tempo que o governo federal teria perdido ao adiar o programa, que insistiu em chamar de "privatização", palavra proibida para os integrantes do governo e evitada pelos empresários.

- O setor privado é que vai fazer os investimentos. Vai privatizar o quê? Privatização é quando você vende um ativo público para um ente privado. Neste caso, é uma parceria, é uma outra modalidade - defendeu o ministro da Fazenda Guido Mantega.

Alckmin, alvo de críticas do PT na campanha presidencial por causa das privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso, disse que o modelo de concessões do governo é usado por São Paulo desde a década de 90 e que o governo está no rumo certo:

- O pacote não é uma privatização envergonhada. Privatização é a venda de ativos. Na concessão, o poder concedente é o governo, que traz a iniciativa privada por um tempo determinado.

"O povo só quer o benefício"

De acordo com Alckmin, "o Estado de São Paulo foi bem aquinhoado no pacote". O estado será contemplado com quatro grandes obras de concessão: os Ferroanéis Norte e Sul, e duas ferrovias.

O líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo, no entanto, criticou o governo, afirmando que "estaríamos atravessando outra etapa, uma fase de melhorias do que foi feito se o país não tivesse sofrido com o viés ideológico" petista.

Em nota divulgada ontem, também publicada hoje nos jornais, o presidente do partido, Sérgio Guerra, elogiou o pacote com ironia: "O PSDB cumprimenta a presidente Dilma por ter aderido ao programa de privatizações há anos desenvolvido pelo partido".

O governo e seus aliados, por sua vez, repeliram a comparação com as privatizações dos governos tucanos. Políticos, empresários e governo usaram a mesma palavra para definir as concessões: parceria.

- Na concessão, o patrimônio continua sendo público. É diferente de quando você vende uma empresa. É mais ou menos como colesterol, tem o ruim e o bom. Esse é o bom - disse o ministro da Educação, Aloizio Mercadante.

Coordenador da Câmara de Gestão do governo, o empresário Jorge Gerdau minimizou o debate, dizendo que não se trata de "discutir ideologia, mas soluções".

Para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o modelo de concessão atende às necessidades do país hoje. Lula negou que a iniciativa signifique um fracasso do PAC:

- Afinal de contas, o povo, não quer saber se é o Estado que faz ou a iniciativa privada. O que ele quer é o benefício.