Título: Testemunha diz que deu procuração a marido
Autor: Sassine, Vinicius
Fonte: O Globo, 16/08/2012, O País, p. 7

Empresa de suspeito teria recebido R$ 70 milhões no Paraná

BRASÍLIA A CPI do Cachoeira tem pouco mais de dois meses até a apresentação do relatório final, no fim de outubro. É improvável que consiga a quebra dos sigilos bancários das empresas de fachada mais atuantes no esquema, caso de parte dos empreendimentos operados por Francisco de Assis, convocado pela CPI.

Adriano Aprígio, ex-cunhado de Cachoeira, encaminhou vários e-mails a Francisco de Assis, nos quais pede a emissão de notas fiscais frias para receber recursos de construtoras. Num dos e-mails, Aprígio informa que o cliente era a Delta. A empreiteira abasteceu o caixa da empresa-fantasma que foi alvo de mandados de busca e apreensão na Monte Carlo. Além de manter o "controle" de empresas de fachada do grupo de Cachoeira, Francisco de Assis tem, em seu nome, uma empresa suspeita de receber R$ 70 milhões em desvios de dinheiro público, num esquema desbaratado pela PF no Paraná.

Ontem, a sócia da Alberto & Pantoja disse ter sido vítima do ex-marido. Roseli Pantoja chegou à sessão da CPI disposta a falar e sem a companhia de um advogado. No início, suspeitou-se de que se tratava de outra Roseli: ela não confirmou o número do CPF lido pelo relator Odair Cunha. Mas, diante das suspeitas levantadas em relação ao ex-marido, Gilmar Carvalho Moraes, parlamentares concluíram que Roseli era a sócia da Alberto & Pantonja. Ela contou ter passado uma procuração a Moraes, que permitia a ele abrir uma empresa.

A mulher contou que Gilmar abriu contas bancárias, fez empréstimos e não pagou, o que levou ao fim do casamento. Com a procuração, pôde criar empresas fantasmas do grupo de Cachoeira, suspeita da CPI. Um novo CPF foi usado para abrir a Alberto & Pantoja, com o mesmo nome (mas com "y" no Rosely) e alterações do número e do nome da mãe. O relator da CPI não soube dizer se a falha foi da Receita Federal ou da Junta Comercial do DF. Somente para a Alberto & Pantoja, a Delta repassou R$ 27 milhões.

Os outros dois convocados de ontem avocaram o direito de permanecer calados: Edivaldo Cardoso, citado em 500 conversas do grupo de Cachoeira e da cota do bicheiro no governo de Marconi Perillo (PSDB) em Goiás, e Hillner Braga, ex-segurança do ex-senador Demóstenes Torres.