Título: CPI vai convocar criadores de empresas-fantasmas
Autor: Sassine, Vinicius
Fonte: O Globo, 16/08/2012, O País, p. 7
Dois operadores de Cachoeira abriram firmas em nomes de laranjas; parlamentares defendem foco na Delta
BRASÍLIA Novos documentos remetidos à CPI do Cachoeira e um depoimento inesperado, prestado ontem, trazem mais evidências sobre o funcionamento do "laranjal" da Delta Construções, irrigado com pelo menos R$ 302 milhões nos últimos quatro anos. Dados encontrados num computador apreendido pela Polícia Federal apontam a existência de um operador de várias empresas de fachada montadas pelo grupo do bicheiro Carlinhos Cachoeira e abastecidas pela Delta. Francisco de Assis Oliveira era responsável por emitir notas fiscais frias que camuflavam serviços não prestados, inclusive para a empreiteira, como conclui a PF em relatórios da Operação Monte Carlo encaminhados à CPI. Anteontem, a comissão aprovou a convocação de Francisco de Assis para depor. Mas novas revelações indicam que ele não era o único "fabricante" de empresas de fachada.
Sócia da principal empresa-fantasma do grupo de Cachoeira, a Alberto & Pantoja Construções, Roseli Pantoja compareceu ontem à CPI, depôs por mais de duas horas e disse que seu nome foi utilizado indevidamente pelo ex-marido Gilmar Carvalho Moraes. Ele passou a ser considerado suspeito e deve ser convocado a depor. O ex-marido pode ter criado seis empresas para Cachoeira com o nome de Roseli.
Parlamentares da oposição e os que se intitulam independentes aproveitaram o surgimento de novos elementos sobre as transferências da Delta para pedir uma mudança de foco da CPI. Segundo eles, as investigações devem focar menos os crimes cometidos por Cachoeira e mais o esquema de remessa de dinheiro da Delta a empreendimentos laranjas, com apuração sobre o destino final dos recursos. O GLOBO mostrou ontem que a CPI já quantificou repasses de R$ 302 milhões da Delta a 13 empresas de fachada entre 2008 e 2012. Quatro dessas empresas são comprovadamente do grupo de Cachoeira, e as demais surgiram no curso da investigação pela CPI, e sobre as quais as informações ainda não são conclusivas.
Mesmo assim, a comissão só conseguiu aprovar a quebra dos sigilos bancários de cinco empresas. Os dados de quatro delas já estão com a comissão, mas só duas receberam repasses da Delta. Informações sobre o sigilo da quinta empresa ainda não foram remetidas pelos bancos. Ontem, o relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), defendeu que a CPI continue focada nas ações de Cachoeira. É essa a postura dos governistas desde o início.
- Estamos diante de uma organização criminosa que chantageia, que continua operando. Discordo dos parlamentares que dizem que agora é a vez da CPI da Delta - disse Cunha, sustentanto que "todas as relações da Delta devem ser investigadas".