Título: Perillo prometeu secretaria a Juquinha em GO
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 16/08/2012, O País, p. 8

Conversa foi interceptada pela PF quando ex-presidente da Valec já era investigado por desvio em ferrovia

BRASÍLIA As investigações da Operação Trem Pagador podem complicar ainda mais a situação do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), que já tem que explicar a natureza de suas relações com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Numa das interceptações da Trem Pagador, autorizadas pela Justiça Federal, a Polícia Federal gravou conversas de Perillo com o ex-presidente da Valec José Francisco das Neves, o Juquinha, preso pela PF como resultado da mesma investigação.

Num dos diálogos obtidos pelo GLOBO, Perillo promete dar ao ex-presidente da Valec a Secretaria das Cidades, departamento com orçamento elevado, em troca de apoio político. Na mesma conversa, o governador diz que quer para o comando da secretaria uma pessoa que seja um "avião supersônico" para levantar dinheiro em Brasília com o mesmo padrão de sucesso do ex-dirigente da empresa pública de ferrovias.

Quando fez a oferta, o governador já sabia que Juquinha havia sido afastado da Valec, no ano passado, em meio a denúncias de corrupção na construção da ferrovia Norte-Sul. O diálogo entre os dois foi interceptado em 28 de junho deste ano. Sérgio Cardoso, um auxiliar de Perillo, liga para o ex-presidente da Valec. Depois de rápidos cumprimentos, passa o telefone para o governador.

- Aquele assunto está redondo, resolvido - avisa Perillo.

Juquinha pede mais detalhes a Perillo.

- Aquele da Secretaria tá resolvido. Já negociei com o PT. Já arranjei outro espaço de tal sorte que semana que vem podemos bater o martelo já - acrescenta o governador.

Segundo a PF, o naco de poder negociado era a Secretaria das Cidades, responsável por obras de saneamento, habitação e até pelo Detran (Departamento de Trânsito), setores com orçamentos generosos na máquina do estado. Juquinha, que já era alvo de uma investigação com crescimento patrimonial incompatível à renda declarada, fica satisfeito.

- Então tá OK - responde o ex-presidente da Valec.

Também animado com o resultado na negociação, Perillo dá carta branca a Juquinha.

- Pode mandar quem você quiser - afirma o governador.

Neste caso, Juquinha poderia indicar qualquer pessoa para ocupar uma das pastas mais importantes do governo de Goiás. Perillo só faz uma exigência: quer que o futuro secretário de Cidades seja um "avião supersônico" na captação de dinheiro em Brasília.

- Tá fechado. Agora eu preciso de um avião lá. Um tipo Juquinha. É a secretaria que mexe com o saneamento e com a habitação. E com o Detran também - diz Perillo, que acrescenta: - Tem de dar conta de alavancar dinheiro em Brasília e que saiba mexer o doce - enfatiza.

- Tá bom então, chefe - concorda o ex-presidente da Valec.

prisão sete dias após conversa

A partir daí, os dois começam a falar sobre as eleições municipais deste ano. Sete dias depois da conversa, Juquinha, a mulher e um dos filhos foram presos pela Polícia Federal na Operação Trem Pagador. Eles são acusados de ocultação de patrimônio e lavagem de dinheiro, supostamente desviado da construção da Norte-Sul. A PF aponta desvio de R$ 129 milhões em trechos da ferrovia em Goiás.

Relatório da PF informa ainda que, no mesmo período da negociação com Perillo, Juquinha estava de olho na Secretaria de Infraestrutura da prefeitura de Goiânia, administrada por Paulo Garcia (PT). As referências às negociações aparecem em conversas de Juquinha com aliados políticos. Num dos áudios, Juquinha "expõe a Luiz Carlos que o prefeito (Paulo Garcia) vai dar a Secretaria de Infraestrutura em Goiânia e pode ser que Luiz Carlos assuma a pasta", afirma relato da operação da PF relacionado à prefeitura.

Procurado pelo GLOBO, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, encarregado da defesa de Perillo na CPI do Cachoeira, confirmou o diálogo, mas disse que se tratava apenas de uma conversa sobre política.

- Não há nada demais além de uma conversa política. O Juquinha era presidente do PR, e o governador estava tentando levar o partido a apoiar o governo - disse Kakay.