Título: Descaso olímpico
Autor: Castro, Carolina Oliveira
Fonte: O Globo, 17/08/2012, Rio, p. 13

Aterro, que será palco de competições em 2016, tem quadras e canteiros malconservados

Apesar do terreno plano, o Parque do Flamengo está cheio de altos e baixos. De um lado, uma enorme área arborizada, oásis à beira-mar projetado por Burle Marx e motivo de orgulho dos cariocas. De outro, moradores de rua e consumidores de drogas, principalmente usuários de crack, quadras esportivas e canteiros malconservados e iluminação precária.

A equipe do GLOBO fez uma ronda pela área do parque, que vai desde o Monumento ao Pracinhas, na altura da Avenida Rio Branco, até o Monumento a Estácio de Sá, próximo à Enseada de Botafogo, e pôde constatar algumas melhorias e muitos problemas. O maior deles foi a insegurança. Apesar da presença de muitos guardas municipais e policiais militares em toda a extensão do parque, os frequentadores reclamam:

- Venho ao parque desde pequena e acho que muita coisa melhorou, está mais bonito, tem mais coisas para fazer. Mas a segurança ainda preocupa muito. As pessoas consomem drogas ao lado de lugares onde ficam muitas crianças. E é todo dia assim - afirma a estudante Thayara Victoria, de 17 anos, que faz escolinha de futebol no parque.

A poucos metros do campo onde as meninas do América Futebol Clube treinam, existe outro, praticamente inutilizado. A grama sintética foi retirada, e os restos estão há meses no terreno onde nada foi feito. Perto dali, pessoas se reúnem para fumar crack, em plena luz do dia, em frente a um movimentado ponto de ônibus.

O Aterro tem se destacado cada vez mais no cenário internacional. Além de ter contribuído para que o Rio ganhasse o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, ele será palco de importantes provas, como marcha atlética e ciclismo de estrada, nos Jogos Olímpicos de 2016. Apesar do alto potencial esportivo, revelado por quadras de tênis, futebol, basquete e por uma ciclovia extensa, o Aterro ainda deixa a desejar nesse quesito. Muitos dos campos de futebol ainda são de terra batida, e, em alguns lugares, o esporte só é praticado durante o dia. Por medo.

- Moro aqui perto e venho sempre. Tenho amigos que só praticam esportes durante o dia ou, à noite, em grupos grandes, para evitar assaltos. As quadras não têm iluminação nenhuma. Se você quiser jogar basquete, só se tiver claro. Esse lugar é lindo e tem muito potencial, mas faltam iluminação e mais incentivos - explica o estudante de medicina Thales Teixeira.

Procurada pelo GLOBO, a subprefeitura da Zona Sul, que cuida dos campos de futebol, não falou sobre o assunto.

O secretário de Conservação, Carlos Roberto Osório, admitiu o problema de iluminação, mas explicou que é uma situação complexa, porque o parque é tombado pelo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

- Toda a área do Parque do Flamengo é tombada pelo Iphan. Portanto, não podemos mexer no projeto original. Estamos tentando ver o que pode ser feito. Para resolver essa situação, teríamos de colocar postes mais baixos. O que não está previsto no projeto original - explicou o secretário, afirmando ainda que a prefeitura está conversando com o Iphan e com o escritório Burle Marx (responsável pelo acervo do paisagista) para achar uma solução.

A prefeitura também informou que o paisagismo do parque está sendo recuperado de acordo com o projeto original. Segundo a secretaria de Conservação, já estão sendo licitadas as empresas que vão fazer essa reestruturação do parque. A reforma vai custar cerca de R$ 7 milhões e incluirá melhorias de infraestrutura e paisagismo.

Na reforma, prevista para durar sete meses, serão recuperados cerca de 11mil metros quadrados de grama e plantadas mais de duas mil mudas. Bicicletários e balizas das quadras serão reparados. Em Barcelona, na Espanha, um parque muito menos paradisíaco (La Barceloneta), mas com caraterísticas parecidas, vivia na mesma situação do Aterro antes das Olimpíadas de 1992. Foi reformado e hoje é um dos pontos turísticos mais importantes da cidade.