Título: Economist vê mudança de rumo de Dilma
Autor: Lima, Maria; Fariello, Danilo
Fonte: O Globo, 17/08/2012, Economia, p. 27

Para revista, pacote para infraestrutura aproxima governo do setor privado

A última edição da revista britânica "Economist" destacou uma mudança de rumo na política econômica brasileira, ao analisar o pacote de investimento em transporte anunciado na quarta-feira pela presidente Dilma Rousseff, em solenidade no Palácio do Planalto. Segundo a publicação, o governo anunciou um plano para privatizar a infraestrutura ao mesmo tempo em que resiste à pressão dos servidores públicos em greve. Para a revista, o anúncio de parceria com o setor privado representa uma guinada do governo em relação às bandeiras do PT.

A "Economist" menciona ainda a reação da presidente às greves do funcionalismo público. "Ela deixou clara sua irritação", afirma o texto, lembrando que chegou ao fim o período de bonança do país, com aumento da arrecadação, o que possibilitava mais contratações no setor público e correções salariais. Mas, com a crise global, "os tempos de vaca gorda se foram. Em 2011, o crescimento do país foi de apenas 2,7%, e, este ano, 2% soa otimista. A arrecadação está crescendo apenas um pouco acima da inflação. O governo já não pode satisfazer a todos."

Greve em meio à crise

Em meio a esse quadro, diz a "Economist", Dilma se viu confrontada pela paralisação dos servidores públicos, que estão em greve há três meses. Da Polícia Federal a agências estratégicas, a paralisação reúne cerca de 300 mil servidores, quase metade da força de trabalho do setor público federal. Confrontada pela crise econômica, a presidente fez sua aposta em um programa que estende o braço ao setor privado brasileiro para melhorar a infraestrutura do país e reduzir o custo Brasil.

Custo que, afirma a revista, prejudica os empresários que investem no país e se veem confrontados por "estradas em péssimas condições, alto custo de energia, leis trabalhistas arcaicas e uma burocracia bizantina". Segundo a "Economist", pelos cálculos do governo, o pacote terá resultados a longo prazo. E a revista lembra que, apesar de ter crescido recentemente, o gasto federal em infraestrutura, desconsiderando habitação, é de apenas 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB).

"Dilma, como seu partido, é instintivamente hostil a qualquer coisa que evoque privatização", diz a "Economist". "Mas ela claramente concluiu que sem o envolvimento do setor privado, as necessidades de infraestrutura do Brasil nunca serão alcançadas."