Título: Preferência é pela indústria nacional
Autor: Mendes, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 30/09/2009, Economia, p. 13

Fabricantes brasileiros fornecerão 64% dos equipamentos para exploração do pré-sal

A indústria brasileira produzirá 64% dos equipamentos necessários para a exploração do pré-sal. Na prática, isso significa que as encomendas do setor de petróleo para fornecedores locais saltarão dos atuais US$ 12 bilhões para US$ 20 bilhões por ano na próxima década. ¿Dos investimentos relacionados a projetos (de exploração do pré-sal) no país, cerca de 64% serão colocados junto ao mercado fornecedor local, levando a uma média anual de colocação de US$ 20 bilhões. A situação anterior máxima chegou a US$ 12 bilhões¿, afirmou a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) sobre o pré-sal, realizada ontem, em Brasília.

A ministra garantiu que esse nível de encomenda às empresas brasileiras é possível. Ela citou como exemplo os resultados da estratégia adotada desde o início da administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de estimular a produção nacional. ¿O governo começou a fazer isso em 2003, quando ressuscitou a indústria naval brasileira, quando obrigamos um maior recurso local e que os investimentos fossem feitos aqui. Não fizemos um pedaço das plataformas P-53 e P-55? Não estamos fazendo novamente navios aqui dentro? Não vamos fazer sonda? Podemos fazer!¿, salientou.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto, defendeu menor tributação, juros baixos e financiamentos especiais para o setor recuperar a posição perdida. ¿Na década de 80, o Brasil era o quinto maior produtor mundial de bens de capital; hoje estamos em 14º. Eram 8 mil indústrias e hoje são 4 mil¿, lembrou. ¿Podemos dar um salto, mas não depende só de palavras, vai defender de ação¿, observou.

Questionada sobre esse cenário, a ministra Dilma admitiu o problema, mas reforçou que é possível recuperar o tempo perdido. ¿Vamos completar tudo aquilo da cadeia que acabou¿, garantiu. E destacou que o pré-sal acelerará essa recuperação. ¿Fomos, no passado, o segundo produtor de navios do mundo. Ela (indústria naval) foi desmontada. Agora, no governo Lula, um pouco antes do pré-sal, em 2003, começamos a remontar. Todo o pré-sal só vai aprofundar ainda mais a política industrial de produzir no Brasil e criar aqui uma indústria de fornecimento, de navio, de sonda¿, disse.

Dilma lembrou que na década de 80 a indústria de bens de capital chegou a superar a coreana, mas o desaparelhamento, que começou com a crise da dívida, em 1982, e se agravou até meados de 90, fez o segmento ser ultrapassado. ¿Por isso, quando o presidente Lula fala `nunca antes na história desse país¿ há um fundo grande de verdade, porque somos os primeiros a investir e voltamos a fazer política industrial¿, defendeu a chefe da Casa Civil.

Incentivo à produção

DECO BANCILLON

As descobertas de petróleo na camada pré-sal criaram oportunidades para a indústria brasileira, mas também serviram como motivo de cobrança para que o setor amplie investimentos no desenvolvimento da cadeia extrativista. Esse recado foi dado ontem pelo presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli, em encontro com dirigentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Gabrielli disse que é necessário maior investimento na produção, sobretudo para que o nível de nacionalização das plantas industriais seja elevado. E fez uma comparação com os recursos da estatal para explicar qual seria o volume de dinheiro necessário para atender à demanda resultante da exploração do pré-sal. ¿Usualmente se diz que a cadeia produtiva precisa investir quatro vezes o que o operador (no caso, a Petrobras) investe para explorar e desenvolver a cadeia produtiva¿, contou.

Essa projeção indica que as inversões do setor produtivo necessárias para o desenvolvimento da cadeia extrativista devam ser de cerca de US$ 700 bilhões nos próximos quatro anos, que é a quarta parte do orçamento anunciado pela Petrobras até 2013. Números apresentados ontem pelo presidente da estatal mostram que os planos de investimento da Petrobras são de US$ 174,4 bilhões, sendo que US$ 100 bilhões seriam destinados a compras no mercado interno. Desses, segundo Gabrielli, US$ 28 bilhões serão direcionados apenas à exploração do pré-sal e US$ 2,8 bilhões em projetos de biocombustíveis.

Gabrielli explicou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estuda lançar um programa de incentivos de crédito à indústria. ¿Outros países têm dado apoio à sua indústria na atividade petrolífera, e é preciso adotar programas especiais para reduzir as diferenças de custos entre a indústria brasileira e os estrangeiros¿, contou.